Categoria: News
Rosana Paulo – Arte afro-brasileira e da Afro-diáspora
Artista negro e sua época
Rosana Paulino é a artista brasileira mais importantes das últimas décadas, sua força e primazia na articulação entre materiais, imagens e o espaço expositivo são algumas das características marcantes de sua pesquisa, que, mesmo sem investimentos e financiamento do mercado ou do sistema de arte, segue em produção ininterrupta e pulsante.
Sua importância se dá não apenas por trazer para o campo da arte contemporânea discussões de linguagens e técnicas inovadoras, mas também por sua existência ser o resultado da luta secular dos africanos da diáspora. Não foi fácil sobreviver nesse território que, por consequência do colonialismo e capitalismos, chamamos de Brasil.
No texto da exposição “Encanto: artevivência da Afro-diápora” recuperei a reflexão filosófica sobre como pensamos a realidade a partir de uma cultura da comunidade. E a partir dessa discussão, como o racismo estrutural e a colonialidade moldam nossa percepção de mundo.
Neste processo, enquanto artistas negros ao longo da história da arte brasileira, vemos que o contexto e construção de conceitos e letramentos para a compreensão de mundo em que somos forçados a sobreviver, ditam também tecnologias e estratégias daquele período para combater preconceitos, ou alcançar relativa liberdade.
Quando pensamos nos artistas negros do 1800, como por exemplo Estevão Silva, ser artista era dominar os cânones da academia. Os que assim faziam eram portanto superiores, dotados de uma aura que abrilhantava sua humanidade e como eram vistos pela sociedade. Por outro lado, as pessoas negras eram ditas como sem alma, não humanas e com intelecto inferior perante um homem branco.
Dessa forma, para combater essa narrativa, um homem negro devia mostrar sua capacidade de civilidade, inteligência e humanidade no mesmo território de disputa que era posto pela sociedade violenta, antiética e escravocrata da época. Como a história nos conta, Estevão mesmo ultrapassando esse domínio e dito o melhor pintor de natureza morta entre seus pares da academia, não é condecorado como tal, pois ao fazer isso, o sistema racista estaria se contradizendo.

O domínio da Técnica
Um desafio semelhante se apresenta a Rosana Paulino, em uma outra academia. Com “agravantes”, é uma mulher negra em um ambiente da supremacia do homem branco, que se fundamenta em literaturas criadas por outros homens brancos; que constroem a realidade a partir da visão deles de mundo.
Como estudante no curso de artes na maior e mais conceituada universidade brasileira – (USP) em um momento de transição na política. Rosana conquistou com seu trabalho e inteligência aliados importantes que colocariam suas pesquisas artísticas em destaque.
Em contexto artístico mundial, e com uma sensibilidade acurada no olhar, Paulino encontra uma fresta para trabalhar a imagem de pessoas negras de forma potente, utilizando a investigação da fotografia e transferências de imagens nos processos da gravura.
Para ser um artista neste período no Brasil, era preciso o domínio de alguma técnica, ou ser de famílias com capital social, cultural ou econômico relevante. Ainda hoje, é muito caro para um artista desenvolver pinturas e esculturas em medidas e materiais apreciados pela história da arte europeia. Assim como os cursos para desenvolvimento das técnicas acadêmicas de representação.
Rosana vai encontrar na presença simbólica da fotografia e no domínio da técnica atrelada ao desenvolvimento teórico e intelectual da academia, uma base sólida e incontestável para inserir sua produção no circuito artístico contemporâneo nacional, e internacional.
Contexto Politico
Na década de 90 o Brasil ainda fingia viver a democracia racial e social na produção cultural. Mesmo que nas novelas da globo, principal parâmetro da época, quase não se via pessoas negras e quando apareciam, eram nas novelas de época, romantizando o período escravocrata, ou em papeis de bandidos, empregados e subalternos.
Porém o movimento negro em diferentes frentes, ia contestando essa estrutura racista, e causando constrangimento para a branquitude.
Contra tudo e contra todos, famílias negras estavam conseguindo colocar alguns de seus filhos na academia, estudar era a via mais segura de escapar ao extermínio, mas não garantia nada.
Desta forma, era impossível ignorar a produção de Paulino, e nem ao menos podiam diminui-la, já que a artista dominava os parâmetros exigidos pela sociedade branca. A escrita de uma pesquisa e domínio da base teórica europeia (Impediam de taxa-la de Naif); O domínio da linguagem e da técnica em coerência com um discurso atual e potente a tornavam impossível de desqualificar enquanto produção de arte contemporânea.
Ao longo de sua produção, Rosana Paulino evidencia estratégias de produzir arte enquanto um artista negro que passa inicialmente por produzir uma arte afro-brasileira, mas que aponta ao meu ver, para que artistas negros produzam uma arte africana da diáspora.
Tendo como objetivo, talvez em um futuro, que possamos ter uma nacionalidade e identidade de território que não seja marcada pela violência colonial. Mas sim, uma reconstrução cultural e simbólica, resgatadas por nós e para nós, pessoas negras.
A cultura Hip-Hop e a denuncia
Como Rosana mesmo diz em entrevistas e palestras, não tinha referências enquanto mulher negra, de outras artistas e pesquisas no Brasil ou fora dele. Num período pré internet, era muito difícil conseguir informações.
Aa tradição academia, exige um ancoramento bibliográfico, seja na história da arte europeia ou em teóricos das ciências acadêmicas. Desta forma além de textos de antropologia, biologia e história, Rosana vai encontrar no movimento Hip-Hop e no Rap, conceitos que levará para a sua arte. Discutir de maneira direta as contradições do Brasil, o racismo e a violência contra as mulheres. Remixando imagens e comentando a história oficial brasileira, ela supre esse dogma de referenciar a história da arte ou do país, para contextualizar sua produção.
Por outro lado a arte de Rosana rompe nas palavras dela “a estranha paz sobre racismo na da arte brasileira”, ao mesmo tempo que vai na contra mão das produções que as galerias e museus queriam consagrar naquele momento. Como exemplo os neoconcretos, a arte de uma classe média branca higienizada, camuflada por cores, formas, geometrias de um Brasil que saiu das trevas da ditadura.
Sem dúvida, esse período da produção de Paulino é uma arte afro-brasileira, misturando o patuá, crochê e o bordado com a imagens de pessoas negras, utilizando a história dos objetos e das imagens para compor sua poética. Além das questões políticas, seu trabalho explora a arte no campo expandido, instalação, e processos complexos de produção de imagens e conceitos simbólicos.
Explicitar o obvio, de maneira direta, se preocupando com a forma e conteúdo, mas sem rodeios, o papo reto, da cultura Hip-Hop, é um dos fatores que torna o trabalhos iniciais de Paulino tão certeiros quanto um Rap dos Racionais. Porém, por ser uma denúncia feita por uma mulher negra, também vão dizer que esta é uma arte indenitária. O que não se diz é que toda arte feita por um homem branco é indenitária e muitas vezes supremacista.
O corpo negro e a violência fotográfica
É inevitável a relação da fotografia e a violência junto ao corpo negro, e como essa linguagem é um dos poucos registros históricos que temos de nossos antepassados. Assim, ao mesmo tempo que essas imagens constroem uma simbologia da desumanização do sujeito negro que é perpetuado no lugar de sofrimento, punição, e roubo da dignidade. Também são nosso terreno de pesquisa sobre o que fomos e de onde viemos.
Ao longo de nossas vidas, o registro de nosso retrato é feito para adentrar no sistema do racismo estrutural do estado brasileiro. Desde a foto do RG, carteira de trabalho, fichas criminais. Porém, muitas famílias negras, a minha por exemplo, dão grande valor ao registro fotográfico. Esta tentativa de evitar o apagamento da nossa história, de preservar memórias, vem muitas vezes do medo desse passado apagado. Enquanto a supremacia branca busca eternizar o individual e separando indivíduos como acima da média. Nossa preocupação é em preservar a história de pessoas comuns, a história dos marginais e normais, são o registro de uma força e resistência de gerações de pessoas negras que lutaram para recuperar o mundo para seus futuros descendentes.
Fora desses momentos em que a fotografia é usada para formatar o sujeito negro: as fotos de nascimento; batizado; aniversários; casamento – são momentos em que as pessoas negras usam para construir a própria memória e a construção da própria história.
É essa mescla que o trabalho “Parede da Memória” nos traz. O deslocamento da imagem de uma foto 3×4 do universo da padronização de um documento, para a aura única de uma obra de arte. As fotos de batizado e de registros de nascimento que geralmente ficam guardadas em caixas em fundos de guarda-roupas ou gavetas, para a parede de um espaço expositivo público.
A presença da fotografia e seu fator indicial que traz a presença física e factual da existência daquelas pessoas. Apresentadas em espaços que até hoje são frequentados em sua maioria por pessoas brancas, aqueles olhares encarando esse público, é incomodo e denuncia a violência, apartheid e tentativa de apagamento contra nossa população.
Assentamento como ressignificação da violência
Nos trabalhos dos anos seguintes como a instalação “Assentamento” Rosana Paulino vai resgatar a imagens de pessoas negras registradas em momentos de violência. Imagens criadas para afirmar uma desumanização de africanos e utilizadas em pseudociências como a Frenologia.
Paulino ressalta que nesses trabalhos ela propõe a reconstrução desse sujeito em um novo território, mas que essa reconstrução é marcada pelo trauma, por uma sutura que é feita: Pelo lado do colonizador, para arrancar o máximo de força de trabalho daquele ser humano objetificado. Já pelo escravizado, uma luta por sobrevivência, necessidade de se reconstruir para alguma esperança de futuro.
Criando novas imagens, a partir de um repertório simbólico criado pelo colonizador, o trabalho de Rosana propõe uma reinvenção, busca dar para aquele sujeito retratado uma nova vida, uma existência para além das violências impostas por seus algozes. O resgate da mulher objetificada. Um outro mundo para aquela personagem.
Essa abordagem de ressignificação e uso do corpo negro como provocador contra o apagamento e a pacificação do discurso, vai encabeçar e abrir caminho para uma nova geração de artistas negros, que vão disputar o espaço simbólico da arte e problematizando a ideação de Brasil, brasilidade e de brasileiro. Utilizando essa abordagem da arte afro-brasileira, esses artistas vão trazer nos objetos e materiais artísticos a ligação ancestral e o corpo como presença representativa.
Ironicamente, essa abordagem vai trazer uma crítica racista: de que a arte negra está muito ligada a representação do corpo, ou que é indenitária. Quando na verdade, para a humanidade a representação do corpo é um dos motivos mais explorados em qualquer cultura.
Tal crítica é infundada também, pois os nomes mais representativos da arte afro-brasileira antes de Rosana Paulino eram voltado a geometria e abstracionismo. Como Emanuel Araújo, Mestre Didi e Rubens Valentim.
A partir de Rosana que outros artistas contemporâneos, também incomodados com o sistema racista da história da arte brasileira, vão utilizar representação figurativa como forma de evidenciar o nosso apagamento. Uma conquista do direito de nos representar como imaginamos, e não como querem que nos ver.
A libertação para uma arte afro-diaspórica
Juntamente a sua produção mais conhecida e que faz parte de acervos de Museus importantes do país. Rosana sempre produziu desenhos e gravuras com um traço único com linhas vigorosas e exploração de vegetação, insetos e do corpo feminino. Porém esses trabalhos só passam a ser exibidos com o valor que eles tem, se não estou enganado, a partir da sua exposição individual na Pinacoteca de São Paulo.
Os seus trabalhos que utilizam a fotografia, transferência de imagens e colagens, sempre estão presentes nas exposições de instituições ao longo dos anos; Esta pesquisa, afro-brasileira, que comenta o brasil e o apagamento histórico do negro na nosso sociedade, sempre estão presentes nas curadorias de pessoas brancas. Porém seus desenhos e esculturas eram mais raras de serem vistas até pouco tempo.
Em seus desenhos e gravuras, Rosana explora uma construção de imagens de uma artistas afrodiaspórica, em que o foco não é o Brasil ou o que a colonização fez de nossos corpos, mas de inquietações e dilemas de um ser humano, que não por acaso é uma mulher negra. Seu corpo racializado e sua existência enquanto mulher numa sociedade racista e machista são determinantes para as imagens que Paulino cria, porém por seu tratamento técnico, escolhas representativas, ela coloca no papel imagens inquietantes e propositoras de discussões que vão além das mazelas coloniais ou raciais.
Utilizando o repertório simbólico construído pela branquitude à custa da colonização e escravização de pessoas negras, Paulino busca discutir sua humanidade, e sua existência enquanto um ser humano especifico, mas que pode ser reconhecido por outros. Ou seja, o trabalho maior do artista em si, compartilhar com o mundo suas impressões da realidade que o cerca e o constrói.
Esse caminho apontado por Rosana é um passo além da arte afro-brasileira, que liga a história de pessoas negras apenas ao crime da escravidão. A arte da Afro-diáspora, aponta para essa reconstrução desse sujeito transplantado através do oceano. Com suas suturas, mas que não se tornou apenas o que queriam fazer dele. A partir do resgate de fragmentos do que seus ancestrais deixaram, esse sujeito se refaz com o objetivo de construir novos simbolismos para as próximas gerações, sugerir novos caminhos para serem investigados.
As mulheres mangue na 35ª Bienal de São Paulo

A 35ª Bienal de São Paulo com certeza vai deixar sua marca na história da instituição, A “Coreografias do Impossível” trouxe as criações artísticas de diversas culturas não brancas para um espaço que foi historicamente simbolo da supremacia branca e embranquecimento da identidade brasileira.
Dentro dos diversos trabalhos da mostra, a escolha das obras de Rosana Paulino me emocionaram de forma que não estava preparado. Assim como Rosana despertou em mim o pensamento de ser um artista negro, agora, ela apontava os próximos passos para nós, novos artistas, e propõe uma nova abordagem dessa produção da afro-diáspora.
Como já disse, a obra “Parede da memória” utiliza da apropriação de imagens e a presença da fotografia para constranger a branquitude, ao mesmo tempo que resignifica e resgata simbolismos criando uma memória cultural da existência e resistência das pessoas negras na história da arte afro-brasileira.
Porém a sala com as pinturas “Mulheres Mangue” não é limitada pela discussão racial, ou do colonialismo. É uma obra livre, onde a artista pode discutir a humanidade e singularidades de uma mulher negra, resgatar elementos simbólicos ancestrais e criar imagens potentes para as novas gerações.
O primeiro movimento de Paulino é utilizar a Tela de pintura. Suporte carregado de poder simbólico pela história da arte europeia. O segundo movimento – o tamanho destas telas. Veja, durante toda sua carreira, Rosana se preocupa com o suporte de suas imagens e os materiais que utiliza. Assim como escolheu o tamanho de pequeno e médio porte. Criações modulares, que permitem uma adaptação de transporte, montagem e de adequação de espaço expositivo.
Logo, a escolha de telas de grande porte, demonstra que Paulino destina aquelas pinturas para espaços da arte específicos – Grandes mostras e grandes museus. Ela também está reivindicando o mesmo local de grandes pintores acadêmicos, que construíam suas alegorias e reinvenções históricas de grande porte para palácios da nobreza.
O terceiro movimento é que Rosana explora o seu desenho na tela, mantendo suas linhas, manchas e gestual que utiliza no papel.
Por último, sua composição, construção figurativa e referências simbólicas são de matrizes africanas. As mulheres mangues são uma construção de uma artista africana da diáspora que está produzindo não para incomodar ou criar um constrangimento da branquitude, mas para exaltar e enriquecer o repertório simbólico imagético de pessoas negras de todo o mundo.
Seu trabalho é um devir da liberdade de pessoas negras em um futuro que buscamos. Onde não somos fadados a discutir o racismo ou as consequências coloniais. Mas exaltando nossa sabedoria ancestral e deixando para as próximas gerações nosso conhecimentos adquiridos, como faziam os Griots. A sonhada liberdade de trazer encantamento, de discutir as dores e alegrias da vida que não são consequências de um trauma marcado por um período histórico mínimo diante da vastidão da nossa existência. Que passeiam por um antes, e vislumbram um depois infinito.
O artista e curador Claudinei Roberto, conta em uma palestra sobre o Sidney Amaral que ao ver o políptico “Incômodo” do artista, Rosana profere que a obra parece muito celebrativa e que parece que a gente já venceu. Segundo Claudinei essa fala reverbera em Amaral e ele estava trabalhando em um desdobramento desse trabalho antes de morrer.
Ao mesmo tempo, imagino, esse devir do vencer, pode ter reverberado também em Paulino, e quem sabe, as mulheres Mangues seja um meio termo desse sentimento.
Fiz um post no meu site refletindo sobre a produção da Rosana Paulino e os trabalhos mais recentes da artista apresentados na 35[DN1] ª Bienal de São Paulo. Acima deixo um pequeno recorte da reflexão.
Nela reflito sobre as estratégias do artista negro no cenário atual da arte e como uma falsa narrativa do indenitaríssimo e o corpo na produção de artistas negros na verdade é apenas racismo, já que a história da arte que rege o sistema atual é na verdade uma arte supremacista branca e eurocentrada.
Além disso, dou início a um pensamento sobre como a afirmação de uma brasilidade, na verdade é uma violência contra povos negros e indígenas, e que para vivemos em uma sociedade decolonial e justa teríamos que iniciar um novo país, com um outro nome. Levando em conta a população deste território e não os intentos dos colonizadores e seus descendentes.
Sendo assim, o que Rosana nos mostra em seus trabalhos é uma saída de uma produção de arte afro-brasileira – que discute a colonialidade, racismo e o apagamento do negro na história oficial Brasileira, para uma arte de uma mulher africana da diáspora, que tendo a liberdade do seu traço, sua pesquisa imagética e seus simbolismos, constrói obras que não estão fadadas a discussão do que fizeram de nós, mas o que faremos e deixaremos para os nosso que virão.
Educação Antirracista. Quando ela chega?
Freire Tão distante
A pouco tempo foi comemorado o centenário de Paulo Freire. Enquanto que nas redes educadores, políticos e pessoas comuns exaltaram o legado do educador. Nossa realidade é bem diferente.
Apesar do que os neopentecostais e direitistas afirmam, as ideias e ideais de Freire estão bem distantes da nossa educação, principalmente nas escolas das periferias e pequenas cidades do nosso país. Infelizmente.
Ou seja, faz apenas 33 anos que se tornou lei em nossa constituição a busca de uma educação universal.Quando muito, se pensava na inserção do branco pobre como mão de obra barata.
Quanto aos negros, pelo contrário, o projeto sempre foi de nos excluir da educação, e em ultima instancia “limpar o país”, através do genocidio e da missigenação.
Contudo, apesar das lutas e pequenas vitórias de professores negros e progressistas que entraram nesse sistema para fazer a diferença. Ainda estamos muitos distântes de ver uma educação antiracista e que prese pelo desenvolvimento real dessas crianças do futuro.
Por enquanto podemos ver apenas as vitórias de alguns indivíduos que conseguem, a duras penas, enfrentar esse racismo estrutural e predatório.
Enquanto isso, nas salas das escolas e universidades, o cenário é de uma guerra devastadora para o psicológico de pessoas negras e também no combate dos preconceitos raciais, de gênero e da homofobia.
Micro e Macro Violências
Em suma, existe uma cadeia de violências (no micro e no macro), que precisa ser quebrada e modificada para termos uma educação antirracista.
Afinal, nas esferas maiores (legislativas e normativas), de forma generalizada – O poder da caneta está nas mãos de homens brancos em uma guerra de uma educação por castas e excludente versus uma educação humanista de molde europeu.
Já nas linhas de frente do ensino infantil ao ensino fundamental e médio. A aplicação dessas normas está nas mãos de mulheres brancas, pobres ou de classe média-baixa. As mulheres negras são minorias nas escolas como professoras, homens então, menos ainda. (segundo dados do INEP “Perfil do Professor da educação básica”).
Tendo em mente esse cenário podemos entender como as micro e macro violências que mencionei acima se reproduzem ano após ano.
Como exemplo do micro, posso citar o famoso “lápis cor de pele”. O termo pode parecer inofensivo a princípio, porém é um ponto ampliador na distorção da autoimagem de uma criança negra. O lápis de cor rosa-claro é geralmente nomeado como a cor de todas as peles, o que exclui a existência de se representar no seu próprio desenho. Sem uma orientação vinda de casa ou de um professor, muitas vezes as crianças negras não se pintam com a cor marrom, se deixando sem pintar ou ainda, escolhendo o rosa, pois é o que a professora ensina como “A cor certa”.
Das pequenas até as grandes agressões
Essa questão é agravada quando também não se tem a representação de crianças negras em desenhos animados mais conhecidos e utilizados nas aulas. Ou nas propagandas e cartazes de divulgação de excursões e eventos na escola.
Para ilustrar uma situação que vivenciei em uma escola: Como trabalho de geografia ou história, uma professora pediu para que os alunos pesquisassem sobre as crianças africanas, e os resultados foram apresentados nas portas das salas de aula.
Todas as imagens mostravam crianças negras com roupas velhas, olhares tristes, sujas, magras e em lugares pobres. Ao lado dessas fotos no corredor, um cartaz divulgava uma excursão da escola que era um evento de profissões e brincadeiras.
Nele, fotos de crianças brancas, loiras (provavelmente de um banco de imagens extrangeiro) se divertiam felizes. Havia ainda um outro cartaz, este fazia propaganda do Parque da Mônica. Novamente, somente crianças brancas na imagem.
Diante desse contraste fotografei as imagens e mandei para o grupo de professores. quem sabe fosse repensado como estava sendo trabalhada a imagem da criança negra na escola.
Para muitos nem sequer passou pela cabeça tal reflexão. Pois para o corpo docente 98 % branco, a imagem da criança negra pobre, passando fome é normalizada e até esperada de se encontrar, enquanto a afirmação da criança branca como universal, a para quem o ECA foi escrito.
Circulo de violência e o racismo
Violências como essas são comuns e massacrantes no cotidiano das escolas. Pesquisas mostram que as crianças negras são as mais hostilizadas e deixadas de lado pelas professoras, assim, como são as mais excluídas pelos colegas.
Este é um círculo vicioso do racismo estrutural, já que muitas vezes as crianças negras são as que vivem em situação de risco em casa, cercadas de violência, fome e até mesmo do simples carinho e cuidado familiar. Devido a todos os problemas sociais que cercam as periferias e os pobres.
E se esses problemas são comuns durante as aulas, elas se acentuam nas festas e comemorações. Uma simples fantasia para o carnaval de princesas, sempre brancas. Ou a figura da “Nega Maluca”, perucas de cabelos crespos desgrenhados, as músicas de marchinhas racistas e machistas, por exemplo, ainda são comuns nas escolas.
Já ouvi casos até de professoras que utilizaram esponja de aço como cabelo. Colado em um cartaz de uma boneca negra para o mês da Consciência Negra… vejam só.
Aliás, além dos costumes e da estrutura racista das escolas, nossos currículos, livros didáticos também são um problema. Falando apenas do ensino publico… A figura do negro e do indigna é sempre apagada e colocada como objeto da história branca e eurocentrica. E muitos professores ainda seguem essa visão.
A lei 11.645/08 que previa o ensino da cultura afro-indigina na escola ainda é um desafio nos dias de hoje. E com o atual governo já sofreu ataques diretos.
E mesmo antes, a simples menção da cultura afro sempre foi marginalizada e literalmente demonizada. Seja qualquer música com tambor, ou qualquer manifestação cultural negra, é tachada de coisa do demônio, macumba. E nessa corrente as religiões de matriz africanas são as que mais sofrem pelo racismo religioso.
Nem com lei

Os pais de alunos chegam a ir a escola, ou a secretaria de educação pedir punição para o professor que ouse falar contra esses preconceitos, ou apenas aplicar a lei e quebrar os tabus contra a cultura afro.
E é nesse embate com os pais de alunos, que novamente a barreira das professoras brancas se torna ainda mais clara. Principalmente em cidades pequenas, as professoras são “vassalas” das famílias de seus alunos.
Agradar a pais e famílias chega a ser a preocupação principal de algumas professoras e professores (principalmente no ensino infantil e fundamental I). Como se estivessem em um cargo político ou de popularidade.
Se de um lado temos as crianças negras, muitas vezes com pais distantes ou ausentes da educação dos seus filhos. Do outro temos as crianças brancas, com famílias mais presentes e conservadoras, policiando os professores e reproduzindo os preconceitos religiosos e culturais.
Vai existir um alinhamento natural dos docentes com a estrutura opressora que os rodeia.
Por uma educação Antirracista
Então, diantes dessas realidades, como pensar uma educação antirracista real para as crianças negras do futuro?
É possível, porém ainda está distante. Talvez o caminho mais rápido fosse os próprios negros se organizarem para criar as escolas afro.
Um local onde em uma rede segura, nossas crianças aprenderiam a sua história e seu valor desde cedo. Ciente do racismo presente fora da rede de proteção, sabendo como enfrentá-lo. Criando planos de como acabar com o racismo estrutural.
Nessa realidade, nossos netos e bisnetos teriam estrutura, conhecimento e apoio para atingir os outros pilares que ainda escravizam nossas comunidades.
Entrando nas políticas públicas, justiça e no comércio. Já temos algumas experiências do tipo com escolas pan africanas. Porém são casos pequenos e promessas.
Curto/ Médio Prazo
Para o curto prazo, devemos do apoio de brancos e não negros antirracistas, dispostos a ver os problemas dessa estrutura, e também a aprender onde erram e como podem combater esse racismo estrutural na educação.
Indo contra alguns dos exemplos que citei acima é um pequeno passo que pode mudar a realidade de muitas crianças negras.
Além disso, nós temos que estar mais presentes na educação de nossas crianças negras.
Cercando de representação, cultura e fornecendo matéria para semear ideias e esperanças nas imaginações dos pequenos.
Presentes como pais, professores, educadores, seja como for. De preferência conhecer mais nossa história e nossa cultura. Sempre combater falas e comportamentos racistas nas escolas, igrejas, trabalho.
Assim, estando mais presentes, e alterando a estrutura. Ter mais negros e negras escrevendo as leis e diretrizes, mais diretores, diretoras, professores e professoras. Protegendo nossas crianças e buscando quebrar o eurocentrismo no que consumimos e reproduzimos.
Lançamento Livro Retratos Apagados
51 Poemas, 12 Cronicas e 51 Contos – Diogo Nógue lança seu segundo livro.
Primeiramente, o ano está promentendo em lançamentos, além da antologia Pretos em Contos vol2, Retratos Apagados vai ser revelado!
No momento em que reúno os escritos desse livro, vivemos uma realidade onde a vida humana parece que perdeu seu valor.
Além disso, entre milhares de mortos em pandemias e violências cotidianas, as histórias e memórias parecem ser descartáveis, transformadas apenas em números sem rosto.
Então, o Livro Retratos Apagados é uma afirmativa ao valor das pequenas memórias. E como elas constroem a existência de uma vida, ou de várias vidas.
Assim, gravadas por meio da escrita e renascendo a partir da leitura, essas vivências se tornam eternas. Antes de tudo, compartilhando conhecimento, sentimento, empatia e saudade com aqueles que as lerem.
Dessa forma, o livro está dividido em quatro partes como álbuns de fotografias; esta coletânea reúne poemas, crônicas e contos de diferentes momentos da minha vida.
Contos, Crônicas e Poemas
Os cinquenta poemas que abrem o livro, foram escritos durante os anos de 2020 e 2021. Tiveram como principais inspirações fotos de família, lembranças de cheiros, sons e espaços da infância e adolescência.
Assim como temas que já trabalhei em minhas pesquisa de arte (escultura, pintura e desenho); pensamentos sobre como viver/sobreviver nesta sociedade que tenta a todo custo apagar as pessoas pretas.
As crônicas de 13 Preto e Vermelho foram escritas em 2013 como parte do projeto do mesmo nome. Nele, meu eu de 25 anos registra todos os dias 13 do ano com uma foto e um texto relatando as experiências e pensamentos vividos.
Invocando os simbolismos das cores e do número 13 com seus diferentes significados em diversas culturas e momentos da história da humanidade.
Busquei relacionar efemérides e presente em cada texto para discutir os prazeres, medos, sonhos de um cotidiano.
Já os contos, estão divididos em dois grupos: os curtos, escritos em sua maioria durante o ano de 2020. Foram parte do curso de escrita ministrado pelo escritor Plinio Camillo. Sendo que alguns deles já publicado na coletânea Pretos em Contos.
Já o segundo grupo, composto por contos mais longos, são histórias antigas como o “Por do sol em campos desertos” que escrevi com 14 ano; alguns deles já publicadas em blogs, fanzines, e outras inéditas como o “Bosque da Solidão”;
Espero que os diferentes sabores e imagens desses Retratos que teimam em não se apagar, possam encher a vida de vocês de significados, indagações, descobertas e momentos que deixem saudade.
Lançamento
O lançamento presencial do livro vai acontecer dia 02 de outubro no restaurante de comidas africanas Mamaafrica Labonne Bouffe. A partir das 15h estarei lá com exemplares do Retratos Apagados e Pedra Polida para tarde de autografos.
Venham prestigiar e adquirir seu livro.
Além disso, já está disponivel aqui no meu site para compra o livro no valor de R$35,00 + Frete para todo Brasil.
portanto, se liguem no endereço:
R. Cantagalo, 230 – Tatuapé, São Paulo – SP, 03319-000 – Dia 02 de Outubro as 15h!
A influência de 2020 na subjetividade do homem preto, e como um Artista Responde.
Imagem divulgação – Série Quem Matou Basquiat
Desde 2004 desenvolvo minha pesquisa em pintura e desenho, tendo participado de exposições coletivas e individuais. Em 2020, esse momento de pausa, possibilitou-me aprofundar em algumas. Assim finalizei duas séries que resultaram na exposição “O Que Nunca Vão Apagar”. Que teve espaço na Casa de Cultura Itaquera na periferia de São Paulo em 21 de novembro.
Partindo da minha visão como homem negro, a mostra reuniu nove desenhos da Série “Quem matou Basquiat?” e duas pinturas “Desconversando o Eu”. Desenvolvidas sob influência do isolamento e do racismo violentamente registrado com imagens e requintes de crueldade durante o ano. Que no entanto são a ponta do iceberg do genocidio contra os povos pretos no Brasil.
Utilizei nanquim, lápis grafite, tinta guache, acrílica e marcadores para construir imagens complexas,cheias de camadas,silhuetas, escrita e a anatomia do corpo humano, pensando como o racismo estrutural e a cultura eurocêntrica apaga e impõe limites de quem pode ser artista; De como tratar o legado desses, assim como os exclui.
Porém não foi uma demanda de agora, na realidade, o primeiro desenho que fiz da série foi feito em 2018 quando viajei para Brumadinho. Meu sonho era conhecer o Museu de Inhotim, o lugar que me deixou impressionado por vários motivos, alguns positivos e muitos negativos.
Inhotim é a sintese do racismo extrutural brasileiro e consequencia direta da escravidão.
E o que me deixou perplexo no museo foi o retrato da visão de arte do branco rico, onde o negro e o indigena tem espaço apenas em suas mazelas e pelo olhar do extrangeiro. Os dois dias de visita ao museu tinham me dado outra visão sobre a arte, a relação de poder que ela chancela, e o consequente apagamento de existências.
E voltando a Belo Horizonte, como uma epifania, ou respostas dos ancestrais. Cheio de malas, decidi dar uma última volta na cidade e ir no CCBB de lá, e me surpreendi quando vi que estava em exibição a exposição do Basquiat, que eu tinha visto em São Paulo naquele mesmo ano, porém ali, depois da visita em Inhotim, ganhou um significado totalmente diferente.
O prédio e a montagem de BH ressaltaram a grandeza do trabalho de Basquiat e era como se ele me respondesse e me indicasse as respostas que devemos dar.
Imagem: Desenhos I, II, III da série – naquim, lápis, marcadores, acrilica sobre papel – 2020
Série “Quem matou Basquiat?”
Em meu processo de criação, busco ter uma base narrativa para a criação das minhas imagens. Para esta série revisitei a história da vida de Jean. me vendo no seu lugar de homem preto, artista, encarando o racismo, estereótipos e os próprios problemas psicológicos. Digerir um momento onde se é erguido no lugar de “Preto Unico”. Já que na narrativa da arte eurocêntrica, a dita “História da Arte” ele foi o único erguido como gênio, ao lado de Da Vinci, Picasso ou seu colega Andy Warhol. E até hoje isso acontece, seja em questões mercadológicas, onde os galeristas e colecionadores só se interessam em grande parte por seus trabalhos, seja no cenário acadêmico.
Tudo isso tem uma relação direta com a morte prematura de Basquiat. Enquanto suas pinturas e objetos valem milhões para galeristas e colecionadores brancos, ele não teve nada, não usufruiu de suas conquistas e morreu doente, com medo, inseguro de si.
Novamente a humanidade roubada do corpo preto e o retorno a uma mercadoria.
Essas questões e resgates que busco nesta série, refletindo sobre o momento que estamos vivendo e pensando nesse corpo preto que tem sentimentos, subjetividade, afetividade, medos e alegrias. Nas dificuldades de existência e expressão dessas subjetividades, já que a todo momento somos convidados a desistir, nos entregar a entretenimento barato, fuga da realidade, ou desacreditados pelas estruturas que nos exclui e nos matam – se não a bala, com doenças ou a desesperança.
Imagem: Desconversando o eu – Oleo Sobre algodão – 2020
Díptico “Desconversando o Eu”
feito a óleo, faz a transição das silhuetas para o realismo, tentando tirar a imagem do corpo do simbolismo chapado que aparece nos desenhos, focando ainda mais na discussão do corpo preto estereotipado, onde os elementos elencados pela sociedade racista estão apagados. Elas são perguntas, chamamentos para se pensar a expressão de sentimentos, inseguranças, relação com o mundo e também falar de existência.
Protagonizar e conquistar territórios
De certa forma a exposição “O que nunca vão apagar” é uma sintese do que foi 2020 para mim enquanto homem preto. Representativa de várias formas, primeiro que teve sua abertura no mês da consciência negra, segundo que discute as barreiras de ser um artista preto no Brasil e em mais de 10 anos, foi a primeira exposição que recebi para produzir. Terceiro que, infelizmente, a pergunta “Quem matou…” pode ser feita sobre Marielle, Miguel, Agatha, João Vitor, Evaldo, Amarildos e a lista segue…
E finalmente, é um grito que diz, que apesar de tentarem, nossa existência e valor, eles nunca vão apagar.
Vista da mostra: “O que nunca vão apagar” – Casa de cultura Itaquera – SP 2020
Diogo Nógue (Diogo Nogueira Silva, 13 de Setembro de 1988 – ) é artista visual, escritor e ilustrador, nascido em Suzano-SP e vive em São Paulo. Formado como Designer Gráfico pela ETEC Carlos de Campos e Artista Visual pela Belas Artes de São Paulo. Entre seus trabalhos literários lançou os livros “Trovinhas das cores e amores” de 2016, o de poesias “Pedra Polida” de 2019 e participou da coletânea “Pretos em Contos” em 2020. Como artista visual tem suas principais exposições “Psicodrama” de 2004, “De onde os Medos crescem” 2017, “Entre o Real e o Sonho” 2018.
Para mais reflexões sobre os temas abordados nesse artigo escrevi os textos
Inhotim – A arte como Poder : https://www.diogonogue.com.br/inhotim-arte-como-poder/
Miguel de Rio Branco – Dualidade e apagamento –
O Ano do (Re)conhecimento – https://www.diogonogue.com.br/o-ano-do-reconhecimento/
Ser ou não ser um artista negro – https://www.diogonogue.com.br/ser-ou-nao-ser-um-artista-negro/
Quem matou Basquiat ? – https://www.diogonogue.com.br/quem-matou-basquiat/
contatos:
Instagram e facebook @diogonogueart
*texto publicado no portal Geledes
Exposição “O Que Nunca Vão Apagar” -2020
A exposição é uma reunião de desenhos e um díptico em pintura que busca discutir o corpo do artista negro em relação a uma sociedade racista e eurocentrica que tenta esteriotipar e apagar a vida desse sujeito.
Diogo Nógue é artista visual, escritor e ilustrador. Como ilustrador e escritor lançou os livros “Trovinhas das cores e amores” de 2016, o de poesias “Pedra Polida” de 2019 e participou da coletânea “Pretos em Contos” em 2020.
Desde 2004 desenvolve sua pesquisa em pintura e desenho, tendo participado de exposições coletivas e individuais dentre elas a mostra “Entre o Real e o Sonho” de 2017 na Casa de Cultura Raul Seixas.
Retorna com a mostra virtual “O que nunca vão apagar”. Uma reunião de 8 desenhos da série “Quem matou Basquiat?” e o díptico em pintura óleo “Desconversando o Eu”
Utilizando de nanquim, lápis grafite, tinta guache, acrílica e marcadores o artista construindo imagens complexas e cheias de camadas que misturam silhuetas, escrita e a anatomia do corpo humano.
Reflexões de como o racismo estrutural e a cultura eurocêntrica apaga e impõe limites de quem pode ser artista, e de como tratar o legado desses, assim como a exclusão e as inseguranças que esse sistema causa aos homens negros são temas centrais das obras.
Assim como no díptico “Desconversando o Eu” autorretrato feitos à tinta à óleo em algodão preparado. O corpo de um homem negro é base para discussão dos estereótipos de força de trabalho e sexualização. Explorando a fragilidade e ressaltando um lado humano sentimental que é ignorado pela sociedade racista brasileira.
A mostra “O que nunca vão apagar” é uma reunião de desenhos e um díptico em pintura que busca discutir o corpo do homem negro, os desafios, medos, felicidades e tristezas que como a sociedade a sua volta o constrói e destrói.
A série de 8 desenhos chamada “Quem matou Basquiat?” feitos em papel canson na medida de 42×29,7 cm é a parte principal da exposição, onde utilizando de nanquim, lápis grafite, tinta guache, acrílica e marcadores vou construindo imagens complexas e cheias de camadas que misturam silhuetas, escrita e a anatomia do corpo humano. As temáticas destes desenhos partem como o nome diz da figura de Basquiat, um dos poucos artistas negros que são aceitos e reconhecidos em todo mundo como um “gênio-da-arte”, que porém morreu precocemente e não pode usufruir do seu legado. Essa reflexão de como o racismo estrutural e a cultura eurocêntrica apaga e impõe limites de quem pode ser artista, e de como tratar o legado desses, assim como a exclusão e as inseguranças que esse sistema causa aos homens negros são trabalhados nos desenhos.
Compondo essa montagem o díptico “Desconversando o Eu” são pinturas autorretrato feitos à tinta à óleo em algodão preparado. O corpo de um homem negro não padrão com rosto, mãos e pés pintados de preto e sem órgão sexual. Esta imagem apaga ou exclui os estereótipos impostos ao homem negro, tido apenas como força de trabalho manual e sexualizada. Nestas pinturas o homem negro que não consegue se comunicar consigo mesmo, se monstra em posição de fragilidade e busca levantar reflexões e ressaltar um lado humano sentimental que é ignorado pela sociedade em geral.
Novo Canal no YouTube
Olá amigos, durante muito tempo tenho usado o Youtube apenas para postar videos pontuais de exposições e trabalhos experimentais de videoart.
Porém nesse ano, vou utilizar a plataforma mais ativamente, com videos de processos de ilustração, pintura, pensamentos teóricos sobre a arte e o trabalho de artistas que admiro.
Atualmente estou recuperando alguns videos e fazendo alguns testes sobre os speedraws. Além disso gravei algumas músicas que escrevi em épocas diferentes e pretendo gravar outras. Quero que o Youtube seja meu canal de divulgação de lançamentos e contato com o publico e minha arte já que é dificil depender de instituições e outras formas para que o trabalho se expanda.
Dessa forma, gostaria de pedir a todos que ainda não estão seguindo o canal, para irem lá e darem uma visita e curtirem as músicas e processos que já estão lá.
Veja agora alguns videos que já estão lá
Speedraw – Esboço, e finalização em nanquim. quase um tutorial.
Neste video eu mostro um passo a passo de um sketch estudo de pose, e finalização em lapis e nanquim.
Speedraw – Retrato realista a lápis
Neste video eu mostro o passo a passo de uma encomenda de retrato a lápis. com base em foto, fiz esse desenho realista e mostro o passo a passo para criar luz e sombra.
Música Cadentes
E como exemplo das músicas, deixo pra vocês essa gravação de Cadentes. Música que escrevi ano passado.
Sendo assim, espero que gostem dos novos conteúdos e que acompanhem o desenvolvimento do trabalho.
Muito obrigado a todos.
Não se esqueçam se conferir a Loja.
Lançamento de Novembro Quadros e Canecas
Chegou novembro, e este mês os novos produtos estão muito lindo e fortes!
Comemorando o mês da Consciencia Negra e também os preparativos da Exposição Online que estou preparando, escolhi a série “Quem matou Basquiat?” como tema das canecas e prints.
Com uma novidade. Serão dois prints do mês além da caneca.


Uma dica de um ótimo presente criativo para o fim de ano, e também um ótimo item para se colecionar.
Lembrando que as canecas e Prints são numerados em uma série de 1/10.
Para saber mais sobre a pesquisa, veja o post “Quem matou Basquiat” onde dialógo sobre os desafios de ser um artista negro nas artes visuais, e também de coo o contexto de racismo estrutural vai matando o artista preto.
Os novos produtos já estão na Loja. Confira abaixo:
-
Poster – Quem Matou Basquiat 2R$100,00 -
Poster – Quem Matou Basquiat 1R$100,00
Lançamento de Outubro
Olá a todos! este mês temos o lançamento de novos produtos na loja!

Aumentando a coleção e dando andamento ao projeto inicial, a ilustração Raizes negras 3 conta com prints e canecas numeradas em 10 cópias, assinadas.
Os Prints são em formato A3 em papel coche 180g sem moldura, e as canecas de porcelana com detalhes coloridos em amarelo.

A ilustração Raizes Negras 3 foi feita com em nanquim e acrilico e finalizado com pintura digital, buscando explorar as imagens da beleza negra, grafismos e padrões africanos e o afrofuturismo.
Cada mês teremos um produto em destaque novo, com ilustrações originais minhas e tiragens limitadas.
Colecione e presentei os que você ama com arte!
-
Print – Raízes Negras 3R$100,00
Miguel de Rio Branco: Dualidade e Apagamento…
Como continuação da discussão da “Arte como Poder” inspirada por Inhotim, neste post pretendo deixar algumas indagações e reflexões sobre a obra do artista Miguel de Rio Branco, que tem um pavilhão dedicado no museu de Brumadinho.
O Ano do (Re)conhecimento
Olá amigos, após um longo tempo sem atualizar minhas redes (Instagram,
Facebook e o Site), hoje estou finalmente voltando a ativa em meus projetos em arte, ilustração e literatura.
Felizmente, com muitas novidades sobre projetos novos que vão ser finalizados esse ano, como também recapitular algumas conquistas do longo caminho que venho trilhando até aqui.
Também quero discutir aqui algumas dificuldades e momentos de incerteza que se passaram nos últimos meses e como mudei depois desses momentos. Então… vamos lá!

Em 2009 tinha acabado de me formar em arte com méritos na Belas Artes de São Paulo, me sentindo no meu melhor momento artístico, descobrindo o início da minha poética e explorando os meus processos pictóricos com a série de trabalhos “De onde os Medos Crescem”. Com essa pesquisa tirei nota 10 no meu TCC e o convite para expor no próximo ano na faculdade.
A exposição 11 Lições foi a minha segunda coletiva na B.A, e contou com ótimos trabalhos de grandes amigos artistas. Como nossa primeira mostra formados e com o apoio da universidade na divulgação, contatos com críticos e galeristas, a nossa expectativa com a repercussão do evento eram grandes, e em grupo, nós, os 11 artistas participantes, buscamos tirar o máximo desse acontecimento.
Infelizmente, a vida real é mais complicada que o roteiro de um filme, e a
mostra foi apenas uma experiência para meu currículo e não rendeu nenhum outro convite ou contato que pudesse me ajudar a ir além.
Mas isso já era esperado, o circuito de arte sempre se mostrou de portas bem fechadas para mim, a tentativa de entrar em um sistema feito para pessoas ricas, brancas, de berço e com contatos sempre me pareceu uma conquista impossível.
Porém não desisti mesmo assim e em 2010 e 2011 desenvolvi o projeto
“Maleta Existência I” era um conjunto de 3 catálogos contendo meus
trabalhos, pesquisas e projetos. Produzi um número de 100 exemplares e enviei em torno de 50 cópias para os principais museus, galerias, críticos de arte e centros culturais.
Como retorno, apenas um crítico, que agradeceu pelo material e com palavras diretas disse resumidamente “o caminho da arte é difícil, e mesmo aqueles que tem algo a dizer podem levar muito tempo para ver seu trabalho reconhecido”. E ele não estava brincando…
Os anos foram seguindo, e eu tentando produzir arte enquanto trabalhando
como Designer Gráfico, sempre com empregos que pagavam mal e muita cobrança.
Anotando em meus cadernos os trabalhos de arte, contos e livros, porém sem tempo para executá-los de verdade. Conseguindo ao menos uma vez por ano ter uma série nova de desenhos, pinturas, objetos ou fotografias… submetendo portfólios a inúmeros salões de arte… na esperança de ser chamado para algum e quem sabe, aí sim, entrar no circuito.
Mas parecia que eu estava sempre perto e distante de conseguir algo, e as
dúvidas começam a surgir…. Será que meu trabalho é realmente bom? Será que estou produzindo arte contemporânea? Será que consigo me passar como pertencente ao panteão de ARTISTAS de verdade? O que tenho que mudar então? Como evoluir?
E fui então em busca de livros, frequentando aberturas, galerias museus…
andando a pé, pegando metro, ônibus para chegar nos espaços expositivos tão distantes para mim, que demandavam tanto trabalho para apenas conhece-los… imagine para fazer parte deles?
Consegui entrar para uma expo de trabalhos coletivos “Troy-art”,
depois para um catálogo de Galeria (em um salão pago… no Rio) e depois
finalmente, em 2016, fui selecionado em uma submissão para uma expo coletiva em um Centro cultural em Santos… E aí nvamente a chama se acendeu… talvez seja agora que eu entre para os circuitos, quem sabe consiga vender algum trabalho… quem sabe algum critico veja minhas obras. Ou quem sabe, consiga outros espaços para expor….

A exposição “De onde os medos ganham força” foi linda e trabalhosa
de organizar. A prefeitura de Santos fornecia apenas o espaço, todos os outros custos seriam por minha conta. Por sorte, em minha carreira como Designer, conseguia poupar alguma grana para financiar meus projetos de arte, e com a ajuda de família e amigos, consegui levar para Santos 13 obras, compostas por desenhos e pinturas. A minha curadoria tinha o intuito de apresentar a trajetória até o momento da minha linguagem visual, e como eu buscava desenvolver a pintura.
Fiz ampla divulgação, enviando e-mail e convites para críticos, museus e
galerias novamente. Porém por ser em Santos, sabia que seria difícil para
qualquer um comparecer a vernissage que seria em uma Sexta a noite.
Apesar da esperança de algo grande acontecer, não fiquei decepcionado por
não ter um público tão grande na minha abertura, e pude contar com família e amigos fazendo parte daquele momento mágico… Sempre via como mais uma barreira vencida, mais uma vitória, mesmo que mínima. E assim seguia em frente.
Em 2017 consegui mais uma mostra individual, agora em São Paulo no Centro Cultural na Zona leste, e levei alguns desenhos e novas pinturas. E também uma exposição alternativa de um coletivo, onde fiz uma Pintura da minha pesquisa afrofuturista em um Prato.
Parecia que agora eu só tinha que manter essa média, e seria fácil…. Uma expo por ano, seja onde for, seria algo muito positivo para eu divulgar e espalhar minha arte.
Fiz o meu site novo, investi na minha página no Facebook e no Instagram… e 2018 prometia ser ainda melhor. E de fato foi.
Consegui 2 espaços expositivos para esse ano, onde levei minhas pesquisas de desenho “o corpo negro” e “Imagens Vestígio”, e nesse meio
tempo também passei a trabalhar como Professor, deixando de lado a carreira no DG.
Isso me deu mais tempo livre, porém aprender a ser um professor para ensino fundamental foi um novo desafio, e a rotina de preparar aulas, estudar e produzir arte se tornou muito cansativa.
Dessa forma que chegamos a 2019, cansado, com 4 exposições individuais nos últimos 4 anos, porém que não trouxeram novas oportunidades para o ano. Porém meu foco seria a publicação do meu primeiro livro, e escolhi o projeto de Poesia que estava engavetado.
Desenvolvi o “Pedra Polida” enquanto estudava desenho, arte, francês e ser professor… Não foi fácil. Porém quando finalmente tinha em mão a versão final do meu livro, tudo tinha valido a pena, até mesmo carregar os livros por 7 quarteirões.

Consegui o espaço para o lançamento em Suzano, no Centro cultural da cidade.
Em uma sexta-feira novamente, após o horário de trabalho. Novamente contando com minha família e amigos, foi uma festa linda, e uma experiência única e mágica. Tinha conseguido vencer mais uma batalha, apenas usando minha vontade de criar arte e produzir.
Mas após o lançamento, me senti totalmente esgotado, e desde então não
consegui mais produzir arte. Sem escrever, sem desenhar, sem pintar. Pareceu que minha vontade tinha sido totalmente sugada. Uma barreira se fez entre mim e meu trabalho criativo… tudo parou.
Nesses 10 anos em busca de me estabelecer como artista, nunca parei de fato de produzir, porém por necessidades diárias, diminui bastante minha criação em todas as áreas, mas aparentemente tinha chegado em um esgotamento total.
Estava precisando de férias do estado de mente criativo, e ainda preciso.
Precisava parar para organizar prioridades e depois executar uma coisa de cada vez. Minhas tentativas de fazer um pouco de cada coisa, não estava dando muito certo.
Entro então em 2020 com o propósito de não parar e não desistir nunca. E de ir além. Tendo a literatura e arte sempre como meus maiores guias.
Este ano vou divulgar ainda mais meu trabalho, estudar e produzir ainda
mais. E pretendo me abrir ainda mais para o mundo. Por isso a primeira coisa que estou fazendo é finalmente tirar do papel o meu canal no YouTube, com vídeos que vão mostrar minha produção, pesquisas, discussões sobre artistas, tipos diferentes de arte e me conectar ainda mais com quem quer consumir minha arte.
Em um segundo momento este ano, também pretendo lançar dois livros. O primeiro será um romance adulto, que vai falar de vários assuntos relativos ao homem preto na sociedade atual. E também um livro infantil, projeto chamado Beto & Bene, que vai buscar incentivar a criatividade da juventude preta.
No campo da arte, duas séries novas vão compor ao menos uma mostra de
desenhos no segundo semestre, e também a Maleta “Existência II” vai ser lançada até o final do ano, e enviada novamente para críticos, museus e
galerias.
Para quem está interessado em fazer parte dessa minha jornada, na loja do meu site, vocês vão encontrar vários materiais aqui citados. Dentre eles a Maleta Existência I e também o Livro Pedra Polida.
E para ficarem por dentro das festas de lançamentos e eventos futuros, sigam minha página no Facebook.
Conto com todos vocês, amigos, familiares, fãs e desconhecidos nessa jornada em busca de tornar o mundo um lugar mais agradável de se viver com a arte.
Muito Obrigado!
Diogo Nogue 26/02/2020
Pedra Polida – Poemas da Zona Mental
Saiba como foi o desenvolvimento e criação do meu livro de poesia Pedra Polida. Com lançamento previsto para o segundo semestre de 2019.
Adinkra, Horus e Baobá – O novo logo

O Nascimento
Com o lançamento do novo site, resolvi renovar mais uma vez o meu logo. Dando uma atualizada nas linhas, limpando elementos, composição e adicionando símbolos e uma visão afrofuturistica do design. Gostei bastante do resultado, pois ficou mais proximo do que eu tinha imaginado em 2007.
A primeira versão tinha como objetivo fugir de um logotipo baseado em conceitos padrões do design dos 00’s (voltado para síntese, pouco elementos). Tinha em mente o acumulo de elementos e brasões de armas ou de famílias reais. Também queria algo bastante simbólico, que tivesse uma relação próxima com minha produção de arte.
Por isso, os elementos do olho ( espelho da alma) e as asas (liberdade e imaginação) já estavam presentes. Neste momento eu tinha criando um desenho carregado, cheio de pontas e manchas pois queria algo “sujo” visualmente. Porém em 2015 resolvi atualizar esses conceitos, limpando o desenho das asas, olhos e letras.
Então adicionei o conceito de escudos africanos como forma de silhueta e as formas circulares e espaço negativo por trás do logo forma ideia do infinito, o olhar ficava preso na forma e encontrava em seu centro a alma e nela o simbolo de fechadura (possibilidade de descoberta).

Arvora Baobá – Ankh – Escudo tribal – Olho de Horus.
O novo logo
Continuando a desenvolver esses elementos já ditos acima. Decidi adicionar o Baobá (arvore sagrada, raízes ancestrais) em negativo ao centro do logo com a fechadura em seu caule, e o adinkra Ananse ntontan (criatividade e sabedoria) abaixo das asas, levando o Ankh aos olhos fortalecendo a ideia de Hórus com os olhos e suas asas, a lua, imaginação, imortalidade.
Em resumo, o novo logo reúne diferentes referências de vários grupos africanos, e busca trazer a força ancestral da criação, imaginação, vida, eternidade e força que são as marcas do povo preto no mundo. Nosso sangue rega o mundo de conhecimento, filosofia e arte!
O Renascimento
Estamos vivendo um novo momento, pois a nossa comunidade preta está estudando, retomando seu protagonismo em pesquisas, teorias e filosofias. De onde viemos, e quem somos não pode ser definido pelas normas e dogmas escolhidos pelo povo branco. Devemos a cada pedaço definir nosso território e nossa perspectiva como africanos e povo preto. E nesse caminho nada melhor que repensar nosso olhar como de um sujeito Afrofuturista – que recria e repensa o mundo de acordo com suas raízes.
Ao desenhar meu novo logo tinha isso em mente, e por esse motivo que me sinto tão contente com o resultado e pretendo usa-lo como marco pessoal para que a partir dele traga para o site esse olhar Afrofuturista.
E vocês, o que acharam?

Livro Pretos Em Contos Vo...
Livro Retratos Apagados -...
Livro Pedra Polida - Poem...
Livro Trovinhas das Cores...



Nossa que estranho! – Desenho 41/ Devaneio 9
Se perdendo no tempo – Desenho 42 “Natividade” – Devaneios 10 Hoje em dia
Coletânia TNTema – Devaneio Já que tão Distante
entrelaços _ primeiro post 2008- Devaneio 11 “seja lá o que fosse”
Desenho 66 – Devaneio 21 – Lacuna