Exposição Fazer Faz Corpo

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Olá a todos! Começamos o ano com uma exposição!

Muito feliz de poder me dedicar ao meu trabalho artístico e estar em diálogo com outros artistas e públicos diferentes.

A mostra Fazer faz Corpo fica aberta de 8/02 até 8/3 de 2024, na Galeria Quarta Parede. Ela faz parte do Projeto Bússola. Concebido e executado por André A. Fernandes e Renato Almeida, o edital que selecionou três artistas (Eu, Ana Freitas e Eduardo Baltazar), tinha a proposta de um acompanhamento artístico dedicado, e que ao final pudéssemos produzir um trabalho novo, derivado da experiência do programa.

No fim do post deixo todos os detalhes de horários, curadores e links sobre a mostra.

Projeto Bússola

Ao longo dos encontros, tivemos conversas profundas sobre nossas produções e reflexões complexas sobre o fazer, estratégias, temáticas, e as escolhas de um trabalho especifico, o que nos levava a discussões densas sobre arte, o artista e seu entorno.

A importância do trabalho em grupo, a troca entre os orientadores e orientandos, o ouvir e ser ouvido, foram aspectos importantes para que cada um de nós nos alimentássemos de todo o processo.

Para mim, gerou mudanças e alinhou pensamentos sobre meu fazer, o objetivo das minhas imagens e a busca mais consciente dos elementos que emprego.

O Ponto de partida

Corpo Encanto foi um trabalho produzido entre o ano de 2022. Resultado da pesquisa iniciada em 2020 – Quem Matou Basquiat?, mas que foi fecundada em 2018, depois de minha visita até Inhotim. Que pode ser lida aqui e aqui.  

A partir dessas conjunções começo a ter clareza sobre as marcas da colonialidade e como a História da Arte é na verdade a história da construção da supremacia branca sobre os povos não brancos. E que a partir dessa consciência, me sinto no dever de contestar essa hegemonia. Olhando para os que vieram antes de mim e refletindo quais equipamentos eles tinham e quais tenho agora, para reivindicar todo poder simbólico da arte ocidental, que foi pago com sangue e a vida dos meus antepassados, para ajudar na reconstrução de nossa história.

Partindo do isolamento de três signos da pintura acima: 1. o texto e suas escritas; 2. As plantas e a ligação com cultura afro-diaspóricas e 3. O corpo enclausurado. Parti para exercícios de pensar forma e conteúdo na produção de significados.

Ter consciência de uma imagem parte de vários fatores como por exemplo sua origem: Realidade, memória, imaginação; sua apresentação: concreta, reprodução, imaterial; Sua construção: fotografia, desenho, pintura, digital, objeto tridimensional…

Esses fatores carregam a imagem de indiciais históricos, temporais, filosóficos, culturais, políticos e etc.

Dissecando o fazer

Um elemento da Corpo Encanto que praticamente finalizou o trabalho foi a adição das plantas Piperegum-verde e Guiné-cabloco no canto esquerdo da pintura. O tratamento que busquei era uma referência a pinturas de pano de prato e seu objetivo era trazer a ligação da natureza e das plantas com o existir negro.

Coletando o Herbário

Partindo dele e, indo para o papel, busquei a tradução para o desenho botânico, como um elemento do eurocentrismo, referente as expedições pré-ciência dos naturalista e o registro da natureza por artistas viajantes que vão depois ser atualizados na modernidade pelo estudo da botânica e ergologia.  Neste jogo trouxe o texto relacionando a escrita manuscrita e a escrita tipográfica também contrapondo dois índices de cultura e origem.

A sugestão do Renato e André foi a de levar esse desenho para o suporte direto do pano de prato e neste jogo, o gesto do desenho se une aos índices do suporte.

Por confluência, em casa tenho muitos panos de prato velhos, que apesar de longo tempo de uso não os descarto, por foram presentes e trocas entre minha mãe Regina e minha tia Ana, suas marcas de uso e marcas do tempo sempre me atraíram e esses objetos fazem parte do meu cotidiano de diferentes maneiras e a fatura e uso deles guardam um arte diminuída, a invisibilidade, mas também o cuidar e a presença das mulheres como minha mãe, tia e minha avó Rosa no trabalho de fazer vingar sua prole.

Assim a construção dessa obra tem um profundo valor afetivo, histórico, e diferentes caminhos de aproximação, que se tornaram muito especiais para mim.

O Corpo em Desencanto

O corpo enclausurado é uma temática que trabalho a partir dos objetos “Eu lembro, Eu esqueço” onde bonecas de porcelana interagem em caixas de vidro.

Dessa imagem, e a reflexão da série “Quem Matou Basquiat?” surgiu o corpo na caixa dourada, presente nos desenhos “Dia desses vão te esquecer” e em “Corpo Encanto”.

Explorando esse elemento em isolado, primeiro no grafite, depois na aquarela, e por último no guache, identifiquei algumas potencialidades, e levando para a discussão coletiva, um novo trabalho foi surgindo.

Diante dos acabamentos resultantes, resolvi fazer um outro movimento: Utilizar o corpo simbólico da pintura, para produzir essas imagens.

Para esse trabalho queria trazer a narrativa porém sem o uso do texto. Assim com a fragmentação e composição, busquei relacionar as três telas na construção de uma imagem.

Nesse processo, estava produzindo uma série de desenhos derivados da minha pesquisa “Imagens vestígio” e “Desconversando o Eu” onde também trabalho a fragmentação das imagens para compor um sentido maior. Esse modo de construção também é uma conversa com a composição de Basquiat, onde separando elementos por enquadramentos derivados do quadrinho ele organiza a composição.

Assim, em Corpo em Desencanto a busca por uma estética afro-surrealista se dá pelo contexto. A temática do embate entre o corpo e as influências do cientifico e o mágico estão presentes nas pesquisas que apresento nessa exposição. Diferindo dos estudos, busquei um acabamento da pintura mais liso e com poucas marcas de pincelada, porém trazendo a textura e as manchas para o fundo. Construindo as figuras por camadas e buscando a construção de um ambiente com gravidade, porém pouco peso, com atmosfera, porém pouca profundidade. Construir com poucos elementos uma atmosfera de mistério, uma dimensão de realidade alheia, onde o observador não sabe ao certo onde posicionar seu repertório e nessa busca, se encontre com um sentimento de estranhamento e angustia daquelas composições.

O objetivo da montagem na vertical é utilizar o espaço expositivo de forma consciente do seu papel. Assim como o objeto tela está consciente de si. A pintura não é só o que ele mostra, mas como e onde mostra.

A posição acima dos olhos do observador traz desafios para a visão e o o corpo. Tanto pelo reflexo da luz na tela, quanto pela distorção de perspectiva. Assim como o olhar para cima, conversa com a temática, e a construção de sentido que a relação das três podem proporcionar.

Fiquei contente com o processo da orientação artística, a troca com os colegas e curadores e também com a exposição. Desejo agora que o público aprecie nosso trabalho árduo e vá conferir a mostra pessoalmente. Segue abaixo todos os detalhes e link para a galeria.

Texto Curadoria

A exposição Fazer Faz Corpo reúne três artistas brasileiros que utilizam principalmente a pintura e o desenho como linguagem  Ana Freitas, Diogo Nógue e Eduardo Baltazar – na Galeria Quarta Parede, Vila Mariana, de 8 de fevereiro a 8 de março de 2024. Os três artistas foram selecionados pelo edital Projeto Bússola, concebido e executado pelo pesquisador André Aureliano Fernandes e pelo artista Renato Almeida, no âmbito das atividades do Coletivo Borde, com a finalidade de aprofundar seus processos poéticos.

O título da exposição Fazer Faz Corpo refere-se a dois termos caros: ao fazer manual e ao corpo da pintura. A intenção com o título é destacar diferentes estratégias de abordagem de uma linguagem de longa tradição cujos resultados podem ser observados a seguir.

Ana Freitas apresenta uma pintura sedutora pelo uso das cores que desde o primeiro momento pergunta pelo desenho. Pintura e desenho tensionados entre si se relacionam com o conhecimento científico, que é abstrato, trazendo-o de volta ao concreto, pela forma.

Diogo Nógue cria imagens que tematizam a representação do corpo, assim como práticas e tradições negras. Do corpo no espaço pictórico à mancha no pano de prato, o artista encontra meios de recuperar e inscrever elementos de matriz afro-brasileira em sínteses que associam medicina e religião, sensibilidade e ideia. Tais sínteses dão contorno ao corpo do próprio artista.

Eduardo Baltazar investiga a iluminação baixa para ralentar o tempo, criar um retardamento, por meio de massas de tinta que se acumulam nas bordas e insinuam a figura no centro, cujos valores de cores, com pequenas variações, instituem negativamente o contracampo do próprio olhar do pintor.

Texto dos curadores sobre meu trabalho

Dizer que corpo, práticas e tradições negras são temas da obra de Diogo Nógue seria pouco. É um pouco mais preciso dizer que corpo, práticas e tradições negras situam de um certo modo a experiência do artista no mundo. Esse deslocamento dos termos da arte à experiência cotidiana fornece um certo entendimento dos trabalhos de Diogo Nógue e os colocam em perspectiva política, que é o modo como encontrou para se inscrever nos sistemas das artes contemporâneas, incluindo a palavra literária e a palavra que educa como docente da rede pública do Estado de São Paulo.
Mobilizada de maneira material, simbólica e religiosa em diferentes obras, a representação do corpo negro dialoga criticamente com noções brancas tidas como dadas, apontando elementos da grave violência estrutural, como o encaixotamento do humano em um categoria abstrata, que rouba sua humanidade. A afirmação do corpo negro e do corpo negro como agente político está presente no corpo da pintura. Ela surge aparece em Corpo Encanto (2022) por meio da recuperação simbólica de elementos fragmentados e torna-se central no Tríptico – Corpo em Desencanto (2023-2024), em que uma massa de tinta opera como uma massa corpórea em espaço cúbico ideal. Ali, a categoria é explicitada como caricatura pictórica de uma existência segundo outra perspectiva que não aquela dela mesma.
Nesse sentido, a presença do corpo constitui-se no exercício político de cujos traços e tensões se fazem convidando a todos a olhar a realidade de outro modo. Ao inscrever o corpo negro no debate público, Diogo parece considerar a arte mais do que um conjunto de saberes técnicos estáveis, um instrumento político a que pergunta: para quê tais saberes são úteis? para quem eles falam? falam o quê? propondo um tensionamento político entre o útil e o agradável.
Na série Herbário do Cuidar, Vingar e Refazer (2023-2024), a representação do corpo assume o suporte – o pano de prato – como meio e (pelo menos parte da) mensagem, dando contornos nuançados para as tradições cotidianas. Ervas como erva-cidreira, guiné, anis relacionam não só os cuidados doméstico com o corpo, como também fazem ligação da arte com a medicina e a religiões de matriz afro-brasileiras. As manchas do suporte são índices de história, assim como o bordado alude ao cuidado e às tradições manuais que devem gozar do mesmo estatuto que a pintura. Assim, o artista produz uma genealogia de gestos, práticas, história, dando reconhecimento e contextualizando às suas próprias tradições, como em uma festa que não se extrai simplesmente um elemento como produto, mas se faz compreender no todo. Essa contextualização pode levar à cozinha onde as pessoas conversam e aos quintais onde as plantas vivem, de modo que não é o traço técnico ou a pequena sacada que interessa, mas um conjunto de sínteses de problemas brasileiros complexos que apontam o grupo e somente pelo grupo onde cada um é parte e toma parte é que podem indicar alguma cura.
Em suma, no trabalho de Diogo Nógue, corpo é afirmação de vida, de so- brevivência, não apenas pela cicatriz, mas pelo reconhecimento de práticas tradicionais e de grupo. E, ao dar dignidade à vida cotidiana, produz um movimento que procura por seus meios superar a naturalização da violência e encontrar na arte condições de pensar natureza como linguagem, trazendo consigo percursos históricos que são coletivos e sem o quais não há sentido possível de história.

Serviço

Fazer Faz Corpo

CURADORIA: @andreaureliano e @_renato_almeida_
ARTISTAS: @anafreitas_atelie, @diogonogueart e @_eduardo_baltazar_

Download Catálogo

Galeria Quarta Parede

Horários
Terça: 14h – 18h
Quarta: 10h – 22h
Quinta: 19h – 22h
Sexta: 10h – 18h
Sábado: 10h – 18h
Domingo e Segunda: Fechados

+ 55 11 91437-9720

Av Conselheiro Rodrigues Alves 722
​Vila Mariana – São Paulo – SP
CEP: 04014-002

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