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Exposição “O Que Nunca Vão Apagar” -2020
A exposição é uma reunião de desenhos e um díptico em pintura que busca discutir o corpo do artista negro em relação a uma sociedade racista e eurocentrica que tenta esteriotipar e apagar a vida desse sujeito.
Diogo Nógue é artista visual, escritor e ilustrador. Como ilustrador e escritor lançou os livros “Trovinhas das cores e amores” de 2016, o de poesias “Pedra Polida” de 2019 e participou da coletânea “Pretos em Contos” em 2020.
Desde 2004 desenvolve sua pesquisa em pintura e desenho, tendo participado de exposições coletivas e individuais dentre elas a mostra “Entre o Real e o Sonho” de 2017 na Casa de Cultura Raul Seixas.
Retorna com a mostra virtual “O que nunca vão apagar”. Uma reunião de 8 desenhos da série “Quem matou Basquiat?” e o díptico em pintura óleo “Desconversando o Eu”
Utilizando de nanquim, lápis grafite, tinta guache, acrílica e marcadores o artista construindo imagens complexas e cheias de camadas que misturam silhuetas, escrita e a anatomia do corpo humano.
Reflexões de como o racismo estrutural e a cultura eurocêntrica apaga e impõe limites de quem pode ser artista, e de como tratar o legado desses, assim como a exclusão e as inseguranças que esse sistema causa aos homens negros são temas centrais das obras.
Assim como no díptico “Desconversando o Eu” autorretrato feitos à tinta à óleo em algodão preparado. O corpo de um homem negro é base para discussão dos estereótipos de força de trabalho e sexualização. Explorando a fragilidade e ressaltando um lado humano sentimental que é ignorado pela sociedade racista brasileira.
A mostra “O que nunca vão apagar” é uma reunião de desenhos e um díptico em pintura que busca discutir o corpo do homem negro, os desafios, medos, felicidades e tristezas que como a sociedade a sua volta o constrói e destrói.
A série de 8 desenhos chamada “Quem matou Basquiat?” feitos em papel canson na medida de 42×29,7 cm é a parte principal da exposição, onde utilizando de nanquim, lápis grafite, tinta guache, acrílica e marcadores vou construindo imagens complexas e cheias de camadas que misturam silhuetas, escrita e a anatomia do corpo humano. As temáticas destes desenhos partem como o nome diz da figura de Basquiat, um dos poucos artistas negros que são aceitos e reconhecidos em todo mundo como um “gênio-da-arte”, que porém morreu precocemente e não pode usufruir do seu legado. Essa reflexão de como o racismo estrutural e a cultura eurocêntrica apaga e impõe limites de quem pode ser artista, e de como tratar o legado desses, assim como a exclusão e as inseguranças que esse sistema causa aos homens negros são trabalhados nos desenhos.
Compondo essa montagem o díptico “Desconversando o Eu” são pinturas autorretrato feitos à tinta à óleo em algodão preparado. O corpo de um homem negro não padrão com rosto, mãos e pés pintados de preto e sem órgão sexual. Esta imagem apaga ou exclui os estereótipos impostos ao homem negro, tido apenas como força de trabalho manual e sexualizada. Nestas pinturas o homem negro que não consegue se comunicar consigo mesmo, se monstra em posição de fragilidade e busca levantar reflexões e ressaltar um lado humano sentimental que é ignorado pela sociedade em geral.
Quem matou Basquiat?
Tive um tempo para refletir minhas influências e a partir da obra de Basquiat desenvolver novos trabalhos em desenho misturando os meus processos e alguns pensamentos da figura do homem preto.
Inhotim – A arte como Poder
Inhotim – A arte como Poder
Território é um dos principais elementos de poder. Os animais e nós, seres humanos descobrimos que é o mais importante.
Inhotim é em primeira instância este tipo de demarcação, em segundo lugar é uma exaltação do poder do dinheiro e por último, a Arte vem para reforçar os dois primeiros ícones de poder. Como sempre foi. Território, dinheiro e Arte = Poder.
Podemos pensar em todo Museu como demonstração de poder. A coleção de objetos e preservação da memória (muitas vezes de “conquistas”, roubos…). Possuir o conhecimento, assim como as “relíquias” que o represente, torna a sociedade que os detém mais sofisticadas. Transformar coleções particulares em públicas (ou emprestá-las), da notoriedade e acrescenta o valor das peças.
A cada passo em Inhotim essa ideia é martelada e parece ser sussurrada junto com o canto dos pássaros, insetos e os animais que passam correndo pelas arvores. O Museu é sobretudo um grito de poder branco à brasileira, que se espelha sempre na Europa e Estados Unidos.
É um retrato fiel da estrutura racista brasileira, partindo da origem do dinheiro e patrimônio do seu idealizador, passando pela forma que o acervo conta a história e fala sobre arte, até chegar nas placas de empresas patrocinadoras e o claro caráter corrupto de sujeira impregnada em cada prédio arquitetônico, jardim paisagístico e lago artificial.

Desvio para o vermelho – Cildão
Após essa introdução, quero aqui fazer uma análise da experiência estética que foi a visita ao Museu e Jardim Botânico de Inhotim, vendo o parque todo como passível de leitura conceitual.
Em primeiro lugar a visita a Inhotim é maravilhosa, e o deslumbramento define cada segundo lá dentro, grande parte disso é consequência da natureza por si só, as grandes arvores, vegetação natural e animais. Em segundo a mão do homem usada para lapidar e organizar os espaços, jardins, flores, e elementos arquitetônicos que parecem buscar a harmonia com a natureza. A cada centímetro encontramos o perfume perfeito, a fotografia mais bela, a luz ideal, as cores mais vivas.

Rouge – Tunga
Em essência, temos a ideia de santuário, e talvez por isso a peregrinação entre os territórios e monumentos em nome das Musas da Arte se faz tão querente. Cada prédio que abriga uma ou algumas obras de arte parecem querer dar razão para a existência não só dos objetos, mas do próprio fazer artístico. Andamos de “templo em templo” apreciando Ídolos, reverenciando entidades.
A Narrativa de poder é óbvia, sínica e ofensiva, mas procura te distrair com a beleza e encantamento. Novamente o poder do território se faz nos nomes dos pavilhões, afirmando uma história da arte vitoriosa. A grandiosidade é a marca daqui, e talvez a ideia de santuário fique ofuscada pela sensação de calvário.
Para um branco, a visita ao Museu deve trazer orgulho e talvez até felicidade de “ser brasileiro”. Porém para um artista negro, estar em Inhotim é se sentir estrangeiro no próprio país. Chega a ser cômico olhar toda aquela pantomima, mas a afronta é clara e direta, talvez… só talvez, inconsciente.

Pavilhão Adriana Varejão
Aprendi a apreciar e reverenciar alguns dos artistas imortalizados aqui, Adriana Varejão, Tunga, Lygia Pape, Edgar de Souza, Matthew Barney são os que tenho mais “carinho” e ligação pelas temáticas discutidas. Outros nomes são reconhecidos pelas instituições e colecionadores, que até respeito e compreendo. Porém parecem apenas reforçar a demonstração de Poder, seja no fazer da arte (como furar um buraco de 200 metros no solo para se captar o som produzido, ou fincar vigas de ferro enormes no chão), ou no conceito de possuir e a partir disso demonstrar força.
Em Inhotim o poder de fazer é tão importante quanto o de dominar, o pretexto é falar da arte, de questões do ser humano, mas na realidade é uma ode as mãos brancas. Em primeiro plano temos uma família loira de olhos claros, e como fantasmas e esqueletos em cada parte do parque as mãos negras e indígenas sustentam essa fachada, tanto nas obras quanto nos funcionários, monitores, seguranças e etc.

Pavilhão Tunga
São as próprias obras de arte que vão nos contando essa história, em suas lacunas e entrelinhas (como acontece também fora do museu). Em primeiro lugar, a galeria da Adriana Varejão, quase que central no parque, com suas paredes de carne e ossos, azulejos craquelados parece nos dizer que todas as paredes de Inhotim são feitas do mesmo material humano e que se mantém escondido. No vermelho sangue pendurados sob o lago de True Rouge, e também nos esqueleto e caveiras penduradas na Casa de vidro de Tunga. Como em uma demonstração de culpa cínica, as Galerias de Miguel de Rio Branco e Claudia Andujar com suas câmeras estrangeiras, vão registrar comunidades negras e indígenas sendo afetadas pela mão branca. De maneira um tanto quanto parasita e ofensiva (que merece um texto a parte).
Território é poder, dinheiro é poder, arte é poder – Inhotim é isso, a demonstração do poder fazer, não importando de fato os meios para se fazer. Pois é preciso falar de composição, cor, de espaço, de não lugar, da solidão, da multidão invisível, de cidades derretidas como cemitérios de velas, de pessoas derretidas em cenários de guerra, ou simplesmente a facilidade que o poder te dá de materializar ideias absurdas. Isso é Inhotim.
(veja algumas fotos que tirei em Inhotim no meu Instagram pessoal)
Exposição “Imagens Vestígio” – Desenhos das lembranças
A partir do dia 27 de abril, a mostra Imagens Vestígio vai estar aberta a visitação no Lobo Centro Criativo.
A abertura será as 19h horas desta sexta. Os desenhos estarão a venda pelo período da exposição que termina em 25 de maio.
Neste post vou falar como surgiu a pesquisa e como os trabalhos da mostra foram feitos.
Imagens Vestígio – A Pesquisa
Imagens vestígio surge inicialmente como processo de criação, pesquisa de desenhos e símbolos que eu pudesse usar em minhas pinturas. Ainda em 2009 costurei meu primeiro caderno para usar entre a inda e vinda da faculdade e do trabalho. Para esse caderno escolhi um papel de cor escurecida chamado de Marfim. Sua superfície lisa e sua gramatura média permitiam diferentes usos de materiais, desde o lápis grafite, passando por marcadores, canetinhas e até aguadas simples.
Outro fator determinante para o resultado dos desenhos seria o material: Deveria ser fácil de se carregar e registrar, sem que me preocupasse com secagens ou atravessamento do papel. O feliz encontro e descoberta do Marcador da Montana Colors se uniu as comuns canetas nanquim, (que já usava por ter paixão por hachuras). Deste encontro, nasceu a característica forte, expressiva e simbólica que os desenhos do caderno foram tomando.
As primeiras páginas desse caderno no entanto foram de pesquisa de materiais, usei lápis de cor laranja, aquarela, marcador branco e outros, porém no encontro do marfim, preto e vermelho, foi que achei maior força.
Então saia todos os dias com meu companheiro de viagem, desenhando ambiente, objetos, pessoas em metrô ônibus, fragmentos de obras de arte e desenhos de imaginação, poemas, reflexões sobre minha produção, nomes de artistas, e outras infinidades de coisas. Buscando sempre um desenho sem esboço, direto no nanquim e equilibrando a composição com massas vermelhas uniformes, um universo imagético construído de resquícios de lembranças e registro de esquecimentos, foram se formando, misturando motivos antigos em meu repertório e criando novos.
Consequência do erro, acaso e embate entre material, controle motor e ideia, cada folha do caderno tem uma história e ao revisitá-lo quase sempre sou transportados para o ambiente em que foram produzidas. As vezes a sala de aula, outras em um restaurante de comida barata, outras na mesa de bar de aniversário de amigos, bibliotecas, quartos, estradas, ou a beira do mar.
Toda essa pesquisa que continua até hoje passou por várias fases e meus pontos de interesse foram variando, entre Dali, Goya, Van Gogh, Octávio Araujo, Daniel Senis, Eva Hesse, e tantas outras referências. O meu olhar pelo mundo buscava a relação do corpo com objetos, espaços, com o outro, o real e o sonho.
É interessante pensar na dinâmica de criação dessas imagens, e a relação com o resultado final. Por serem desenhos rápidos, de registos de imagens, pessoas, lugares que estavam passageiras no meu cotidiano, os desenhos tem uma natureza fragmentada, inacabada. Pois muitas vezes o motivo de estudo era perdido, ou interrompido pelo trajeto que tinha que percorrer, uma aula que chegava ao fim, e etc. E as vezes esse desenho só seria “completado” ou finalizado, dias, meses depois. Após ter passado por diversas novas experiências, a revisitação de cada página do caderno era e é constante, A revisitação de memórias, a relembrança, e sobreposição de camadas que ficaram gravadas na feitura de cada página, são o coração desses cadernos.
O primeiro caderno foi finalizado por volta de março de 2010, o segundo foi iniciado em Julho de 2010 e foi nesse momento que as questões da fragmentação se tornaram um motivo consciente e uma busca do corpo recortado, rasgado, costurado, aberto, deformado, muculos, ossos, se tornaram frequentes, o que remetiam a uma violência, a morte e o terror para muitos que observavam o resultado final. Porém o interesse nesses motivos era o poder da linha expressiva, e o como ela potencializava essa violência. Em contra partida, deixei de usar o marcador vermelho em 80% dos estudos, buscando evitar o simbolismo do sangue, dando aos corpos um caráter menos carnal. Com palavras chaves, tiradas do trabalho de Leonilson (Numeros, mãos, cabeças, ramificações, tempo, passagem, corpo, a palavra) e ações (carregar nas costas, segurar junto ao peito, voar, cair, se perder) o segundo caderno se finaliza apenas em março de 2015.
O terceiro caderno iniciado em Maio de 2015 e que ainda estou usando vem me trazendo novas reflexões e busca por representações menos eurocêntricas. Uma visita aos símbolos e imagéticas negras vem sendo minha maior preocupação na criação das imagens no momento. Os fenótipos foram mudando, novas experimentações de materiais e estilos de desenho deixaram as paginas mais variadas.
A Exposição
Para a exposição, resolvi resgatar algumas páginas dos cadernos, desenvolvendo trabalhos maiores e que reconstroem acasos, acidentes, tornando escolhas conscientes processos que tiveram um outro tempo e natureza de nascimento. Além disso, procurei reunir dois grupos de imagens, com natureza distintas nos trabalhos da amostra. No primeiro temos imagens completas, com tons simbólicos e força dramática que conversa com a referência de cada expectador, porém com interpretações mais fechadas. O segundo grupo constrói simbolismos e desperta sensações e interpretações mais abertas, que produzem leituras mais românticas, violentas ou fantásticas de acordo com quem as vê.
Essa revisita as lembranças de 9, 7 anos passados, produziu resultados interessantes e pretendo continuar esses transporte e resignificação dos fragmentos das memórias registradas.
Além também de tornar publico essas pesquisas que ficavam confinadas em meus cadernos, possibilitando novas leituras, e enriquecendo minha poética para futuros trabalhos.
Quem quiser conferir pessoalmente esse trajeto está convidado a visitar a mostra tanto na abertura, como no decorrer do mês de maio.
Serviço:
Exposição Imagens Vestígio – Diogo Nogue
Local: r. capitão cavalcanti, 35A – vila mariana/sp
Visitação: Segunda a Sábado
Site: http://www.lobocc.com.br/
Abertura: 27/04 as 19h

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