Desenhos e Devaneios

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Rosana Paulo – Arte afro-brasileira e da Afro-diáspora

Artista negro e sua época

Rosana Paulino é a artista brasileira mais importantes das últimas décadas, sua força e primazia na articulação entre materiais, imagens e o espaço expositivo são algumas das características marcantes de sua pesquisa, que, mesmo sem investimentos e financiamento do mercado ou do sistema de arte, segue em produção ininterrupta e pulsante. 

Sua importância se dá não apenas por trazer para o campo da arte contemporânea discussões de linguagens e técnicas inovadoras, mas também por sua existência ser o resultado da luta secular dos africanos da diáspora. Não foi fácil sobreviver nesse território que, por consequência do colonialismo e capitalismos, chamamos de Brasil.

No texto da exposição “Encanto: artevivência da Afro-diápora” recuperei a reflexão filosófica sobre como pensamos a realidade a partir de uma cultura da comunidade. E a partir dessa discussão, como o racismo estrutural e a colonialidade moldam nossa percepção de mundo.

Neste processo, enquanto artistas negros ao longo da história da arte brasileira, vemos que o contexto e construção de conceitos e letramentos para a compreensão de mundo em que somos forçados a sobreviver, ditam também tecnologias e estratégias daquele período para combater preconceitos, ou alcançar relativa liberdade.

Quando pensamos nos artistas negros do 1800, como por exemplo Estevão Silva, ser artista era dominar os cânones da academia. Os que assim faziam eram portanto superiores, dotados de uma aura que abrilhantava sua humanidade e como eram vistos pela sociedade. Por outro lado, as pessoas negras eram ditas como sem alma, não humanas e com intelecto inferior perante um homem branco.

Dessa forma, para combater essa narrativa, um homem negro devia mostrar sua capacidade de civilidade, inteligência e humanidade no mesmo território de disputa que era posto pela sociedade violenta, antiética e escravocrata da época. Como a história nos conta, Estevão mesmo ultrapassando esse domínio e dito o melhor pintor de natureza morta entre seus pares da academia, não é condecorado como tal, pois ao fazer isso, o sistema racista estaria se contradizendo.

Parede da memória (detalhe) 1994/20215 Rosana Paulino, instalação. patuás em manta acrílica e tecido costurados com linha de algodão, fotocópia sobre papel e aquarela.

O domínio da Técnica

Um desafio semelhante se apresenta a Rosana Paulino, em uma outra academia. Com “agravantes”, é uma mulher negra em um ambiente da supremacia do homem branco, que se fundamenta em literaturas criadas por outros homens brancos; que constroem a realidade a partir da visão deles de mundo.   

Como estudante no curso de artes na maior e mais conceituada universidade brasileira – (USP) em um momento de transição na política. Rosana conquistou com seu trabalho e inteligência aliados importantes que colocariam suas pesquisas artísticas em destaque.

Em contexto artístico mundial, e com uma sensibilidade acurada no olhar, Paulino encontra uma fresta para trabalhar a imagem de pessoas negras de forma potente, utilizando a investigação da fotografia e transferências de imagens nos processos da gravura.

Para ser um artista neste período no Brasil, era preciso o domínio de alguma técnica, ou ser de famílias com capital social, cultural ou econômico relevante. Ainda hoje, é muito caro para um artista desenvolver pinturas e esculturas em medidas e materiais apreciados pela história da arte europeia. Assim como os cursos para desenvolvimento das técnicas acadêmicas de representação.

Rosana vai encontrar na presença simbólica da fotografia e no domínio da técnica atrelada ao desenvolvimento teórico e intelectual da academia, uma base sólida e incontestável para inserir sua produção no circuito artístico contemporâneo nacional, e internacional.

Contexto Politico

Na década de 90 o Brasil ainda fingia viver a democracia racial e social na produção cultural. Mesmo que nas novelas da globo, principal parâmetro da época, quase não se via pessoas negras e quando apareciam, eram nas novelas de época, romantizando o período escravocrata, ou em papeis de bandidos, empregados e subalternos.

Porém o movimento negro em diferentes frentes, ia contestando essa estrutura racista, e causando constrangimento para a branquitude.

Contra tudo e contra todos, famílias negras estavam conseguindo colocar alguns de seus filhos na academia, estudar era a via mais segura de escapar ao extermínio, mas não garantia nada.

Desta forma, era impossível ignorar a produção de Paulino, e nem ao menos podiam diminui-la, já que a artista dominava os parâmetros exigidos pela sociedade branca. A escrita de uma pesquisa e domínio da base teórica europeia (Impediam de taxa-la de Naif); O domínio da linguagem e da técnica em coerência com um discurso atual e potente a tornavam impossível de desqualificar enquanto produção de arte contemporânea.

Ao longo de sua produção, Rosana Paulino evidencia estratégias de produzir arte enquanto um artista negro que passa inicialmente por produzir uma arte afro-brasileira, mas que aponta ao meu ver, para que artistas negros produzam uma arte africana da diáspora.

Tendo como objetivo, talvez em um futuro, que possamos ter uma nacionalidade e identidade de território que não seja marcada pela violência colonial. Mas sim, uma reconstrução cultural e simbólica, resgatadas por nós e para nós, pessoas negras.

A cultura Hip-Hop e a denuncia

Como Rosana mesmo diz em entrevistas e palestras, não tinha referências enquanto mulher negra, de outras artistas e pesquisas no Brasil ou fora dele. Num período pré internet, era muito difícil conseguir informações.

Aa tradição academia, exige um ancoramento bibliográfico, seja na história da arte europeia ou em teóricos das ciências acadêmicas. Desta forma além de textos de antropologia, biologia e história, Rosana vai encontrar no movimento Hip-Hop e no Rap, conceitos que levará para a sua arte. Discutir de maneira direta as contradições do Brasil, o racismo e a violência contra as mulheres. Remixando imagens e comentando a história oficial brasileira, ela supre esse dogma de referenciar a história da arte ou do país, para contextualizar sua produção.

Por outro lado a arte de Rosana rompe nas palavras dela “a estranha paz sobre racismo na da arte brasileira”, ao mesmo tempo que vai na contra mão das produções que as galerias e museus queriam consagrar naquele momento. Como exemplo os neoconcretos, a arte de uma classe média branca higienizada, camuflada por cores, formas, geometrias de um Brasil que saiu das trevas da ditadura.  

Sem dúvida, esse período da produção de Paulino é uma arte afro-brasileira, misturando o patuá, crochê e o bordado com a imagens de pessoas negras, utilizando a história dos objetos e das imagens para compor sua poética. Além das questões políticas, seu trabalho explora a arte no campo expandido, instalação, e processos complexos de produção de imagens e conceitos simbólicos.

Explicitar o obvio, de maneira direta, se preocupando com a forma e conteúdo, mas sem rodeios, o papo reto, da cultura Hip-Hop, é um dos fatores que torna o trabalhos iniciais de Paulino tão certeiros quanto um Rap dos Racionais. Porém, por ser uma denúncia feita por uma mulher negra, também vão dizer que esta é uma arte indenitária. O que não se diz é que toda arte feita por um homem branco é indenitária e muitas vezes supremacista.

O corpo negro e a violência fotográfica

É inevitável a relação da fotografia e a violência junto ao corpo negro, e como essa linguagem é um dos poucos registros históricos que temos de nossos antepassados. Assim, ao mesmo tempo que essas imagens constroem uma simbologia da desumanização do sujeito negro que é perpetuado no lugar de sofrimento, punição, e roubo da dignidade. Também são nosso terreno de pesquisa sobre o que fomos e de onde viemos.

Ao longo de nossas vidas, o registro de nosso retrato é feito para adentrar no sistema do racismo estrutural do estado brasileiro. Desde a foto do RG, carteira de trabalho, fichas criminais. Porém, muitas famílias negras, a minha por exemplo, dão grande valor ao registro fotográfico. Esta tentativa de evitar o apagamento da nossa história, de preservar memórias, vem muitas vezes do medo desse passado apagado. Enquanto a supremacia branca busca eternizar o individual e separando indivíduos como acima da média. Nossa preocupação é em preservar a história de pessoas comuns, a história dos marginais e normais, são o registro de uma força e resistência de gerações de pessoas negras que lutaram para recuperar o mundo para seus futuros descendentes.

Fora desses momentos em que a fotografia é usada para formatar o sujeito negro: as fotos de nascimento; batizado; aniversários; casamento – são momentos em que as pessoas negras usam para construir a própria memória e a construção da própria história.      

É essa mescla que o trabalho “Parede da Memória” nos traz. O deslocamento da imagem de uma foto 3×4 do universo da padronização de um documento, para a aura única de uma obra de arte. As fotos de batizado e de registros de nascimento que geralmente ficam guardadas em caixas em fundos de guarda-roupas ou gavetas, para a parede de um espaço expositivo público.

A presença da fotografia e seu fator indicial que traz a presença física e factual da existência daquelas pessoas. Apresentadas em espaços que até hoje são frequentados em sua maioria por pessoas brancas, aqueles olhares encarando esse público, é incomodo e denuncia a violência, apartheid e tentativa de apagamento contra nossa população.

Assentamento como ressignificação da violência

Nos trabalhos dos anos seguintes como a instalação “Assentamento” Rosana Paulino vai resgatar a imagens de pessoas negras registradas em momentos de violência. Imagens criadas para afirmar uma desumanização de africanos e utilizadas em pseudociências como a Frenologia. 

Paulino ressalta que nesses trabalhos ela propõe a reconstrução desse sujeito em um novo território, mas que essa reconstrução é marcada pelo trauma, por uma sutura que é feita: Pelo lado do colonizador, para arrancar o máximo de força de trabalho daquele ser humano objetificado. Já pelo escravizado, uma luta por sobrevivência, necessidade de se reconstruir para alguma esperança de futuro.

Criando novas imagens, a partir de um repertório simbólico criado pelo colonizador, o trabalho de Rosana propõe uma reinvenção, busca dar para aquele sujeito retratado uma nova vida, uma existência para além das violências impostas por seus algozes. O resgate da mulher objetificada. Um outro mundo para aquela personagem.

Essa abordagem de ressignificação e uso do corpo negro como provocador contra o apagamento e a pacificação do discurso, vai encabeçar e abrir caminho para uma nova geração de artistas negros, que vão disputar o espaço simbólico da arte e problematizando a ideação de Brasil, brasilidade e de brasileiro. Utilizando essa abordagem da arte afro-brasileira, esses artistas vão trazer nos objetos e materiais artísticos a ligação ancestral e o corpo como presença representativa.

Ironicamente, essa abordagem vai trazer uma crítica racista: de que a arte negra está muito ligada a representação do corpo, ou que é indenitária. Quando na verdade, para a humanidade a representação do corpo é um dos motivos mais explorados em qualquer cultura.

Tal crítica é infundada também, pois os nomes mais representativos da arte afro-brasileira antes de Rosana Paulino eram voltado a geometria e abstracionismo. Como Emanuel Araújo, Mestre Didi e Rubens Valentim.

A partir de Rosana que outros artistas contemporâneos, também incomodados com o sistema racista da história da arte brasileira, vão utilizar representação figurativa como forma de evidenciar o nosso apagamento. Uma conquista do direito de nos representar como imaginamos, e não como querem que nos ver.  

A libertação para uma arte afro-diaspórica

Juntamente a sua produção mais conhecida e que faz parte de acervos de Museus importantes do país. Rosana sempre produziu desenhos e gravuras com um traço único com linhas vigorosas e exploração de vegetação, insetos e do corpo feminino. Porém esses trabalhos só passam a ser exibidos com o valor que eles tem, se não estou enganado, a partir da sua exposição individual na Pinacoteca de São Paulo.

Os seus trabalhos que utilizam a fotografia, transferência de imagens e colagens, sempre estão presentes nas exposições de instituições ao longo dos anos; Esta pesquisa, afro-brasileira, que comenta o brasil e o apagamento histórico do negro na nosso sociedade, sempre estão presentes nas curadorias de pessoas brancas. Porém seus desenhos e esculturas eram mais raras de serem vistas até pouco tempo.

Em seus desenhos e gravuras, Rosana explora uma construção de imagens de uma artistas afrodiaspórica, em que o foco não é o Brasil ou o que a colonização fez de nossos corpos, mas de inquietações e dilemas de um ser humano, que não por acaso é uma mulher negra. Seu corpo racializado e sua existência enquanto mulher numa sociedade racista e machista são determinantes para as imagens que Paulino cria, porém por seu tratamento técnico, escolhas representativas, ela coloca no papel imagens inquietantes e propositoras de discussões que vão além das mazelas coloniais ou raciais.

Utilizando o repertório simbólico construído pela branquitude à custa da colonização e escravização de pessoas negras, Paulino busca discutir sua humanidade, e sua existência enquanto um ser humano especifico, mas que pode ser reconhecido por outros. Ou seja, o trabalho maior do artista em si, compartilhar com o mundo suas impressões da realidade que o cerca e o constrói.

Esse caminho apontado por Rosana é um passo além da arte afro-brasileira, que liga a história de pessoas negras apenas ao crime da escravidão. A arte da Afro-diáspora, aponta para essa reconstrução desse sujeito transplantado através do oceano. Com suas suturas, mas que não se tornou apenas o que queriam fazer dele. A partir do resgate de fragmentos do que seus ancestrais deixaram, esse sujeito se refaz com o objetivo de construir novos simbolismos para as próximas gerações, sugerir novos caminhos para serem investigados.

As mulheres mangue na 35ª Bienal de São Paulo

Sala de Rosana Paulino durante a montagem da 35a Bienal de São Paulo. 02/09/2023 © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

A 35ª Bienal de São Paulo com certeza vai deixar sua marca na história da instituição, A “Coreografias do Impossível” trouxe as criações artísticas de diversas culturas não brancas para um espaço que foi historicamente simbolo da supremacia branca e embranquecimento da identidade brasileira.

Dentro dos diversos trabalhos da mostra, a escolha das obras de Rosana Paulino me emocionaram de forma que não estava preparado. Assim como Rosana despertou em mim o pensamento de ser um artista negro, agora, ela apontava os próximos passos para nós, novos artistas, e propõe uma nova abordagem dessa produção da afro-diáspora.

Como já disse, a obra “Parede da memória” utiliza da apropriação de imagens e a presença da fotografia para constranger a branquitude, ao mesmo tempo que resignifica e resgata simbolismos criando uma memória cultural da existência e resistência das pessoas negras na história da arte afro-brasileira.

Porém a sala com as pinturas “Mulheres Mangue” não é limitada pela discussão racial, ou do colonialismo. É uma obra livre, onde a artista pode discutir a humanidade e singularidades de uma mulher negra, resgatar elementos simbólicos ancestrais e criar imagens potentes para as novas gerações.

O primeiro movimento de Paulino é utilizar a Tela de pintura. Suporte carregado de poder simbólico pela história da arte europeia.  O segundo movimento – o tamanho destas telas. Veja, durante toda sua carreira, Rosana se preocupa com o suporte de suas imagens e os materiais que utiliza. Assim como escolheu o tamanho de pequeno e médio porte. Criações modulares, que permitem uma adaptação de transporte, montagem e de adequação de espaço expositivo.

Logo, a escolha de telas de grande porte, demonstra que Paulino destina aquelas pinturas para espaços da arte específicos – Grandes mostras e grandes museus. Ela também está reivindicando o mesmo local de grandes pintores acadêmicos, que construíam suas alegorias e reinvenções históricas de grande porte para palácios da nobreza.

O terceiro movimento é que Rosana explora o seu desenho na tela, mantendo suas linhas, manchas e gestual que utiliza no papel.

Por último, sua composição, construção figurativa e referências simbólicas são de matrizes africanas. As mulheres mangues são uma construção de uma artista africana da diáspora que está produzindo não para incomodar ou criar um constrangimento da branquitude, mas para exaltar e enriquecer o repertório simbólico imagético de pessoas negras de todo o mundo.

Seu trabalho é um devir da liberdade de pessoas negras em um futuro que buscamos. Onde não somos fadados a discutir o racismo ou as consequências coloniais. Mas exaltando nossa sabedoria ancestral e deixando para as próximas gerações nosso conhecimentos adquiridos, como faziam os Griots. A sonhada liberdade de trazer encantamento, de discutir as dores e alegrias da vida que não são consequências de um trauma marcado por um período histórico mínimo diante da vastidão da nossa existência. Que passeiam por um antes, e vislumbram um depois infinito.

O artista e curador Claudinei Roberto, conta em uma palestra sobre o Sidney Amaral que ao ver o políptico “Incômodo” do artista, Rosana profere que a obra parece muito celebrativa e que parece que a gente já venceu. Segundo Claudinei essa fala reverbera em Amaral e ele estava trabalhando em um desdobramento desse trabalho antes de morrer.

Ao mesmo tempo, imagino, esse devir do vencer, pode ter reverberado também em Paulino, e quem sabe, as mulheres Mangues seja um meio termo desse sentimento.

Fiz um post no meu site refletindo sobre a produção da Rosana Paulino e os trabalhos mais recentes da artista apresentados na 35[DN1] ª Bienal de São Paulo. Acima deixo um pequeno recorte da reflexão.

Nela reflito sobre as estratégias do artista negro no cenário atual da arte e como uma falsa narrativa do indenitaríssimo e o corpo na produção de artistas negros na verdade é apenas racismo, já que a história da arte que rege o sistema atual é na verdade uma arte supremacista branca e eurocentrada.

Além disso, dou início a um pensamento sobre como a afirmação de uma brasilidade, na verdade é uma violência contra povos negros e indígenas, e que para vivemos em uma sociedade decolonial e justa teríamos que iniciar um novo país, com um outro nome. Levando em conta a população deste território e não os intentos dos colonizadores e seus descendentes.

Sendo assim, o que Rosana nos mostra em seus trabalhos é uma saída de uma produção de arte afro-brasileira – que discute a colonialidade, racismo e o apagamento do negro na história oficial Brasileira, para uma arte de uma mulher africana da diáspora, que tendo a liberdade do seu traço, sua pesquisa imagética e seus simbolismos, constrói obras que não estão fadadas a discussão do que fizeram de nós, mas o que faremos e deixaremos para os nosso que virão.

Rio Branco em Inhotim: Museus Precisam Parar de Desumanizar Pessoas Negras.

Retorno ao Inhotim e denuncio a exibição descontextualizada da obra de Miguel Rio Branco, que reforça estereótipos racistas. Publiquei carta aberta ao museu pedindo revisão curatorial e mediação crítica.

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Educação Antirracista. Quando ela chega?

Freire Tão distante

A pouco tempo foi comemorado o centenário de Paulo Freire. Enquanto que nas redes educadores, políticos e pessoas comuns exaltaram o legado do educador. Nossa realidade é bem diferente.

Apesar do que os neopentecostais e direitistas afirmam, as ideias e ideais de Freire estão bem distantes da nossa educação, principalmente nas escolas das periferias e pequenas cidades do nosso país. Infelizmente.

Ou seja, faz apenas 33 anos que se tornou lei em nossa constituição a busca de uma educação universal.Quando muito, se pensava na inserção do branco pobre como mão de obra barata.

Quanto aos negros, pelo contrário, o projeto sempre foi de nos excluir da educação, e em ultima instancia “limpar o país”, através do genocidio e da missigenação.

Contudo, apesar das lutas e pequenas vitórias de professores negros e progressistas que entraram nesse sistema para fazer a diferença. Ainda estamos muitos distântes de ver uma educação antiracista e que prese pelo desenvolvimento real dessas crianças do futuro.

Por enquanto podemos ver apenas as vitórias de alguns indivíduos que conseguem, a duras penas, enfrentar esse racismo estrutural e predatório.

Enquanto isso, nas salas das escolas e universidades, o cenário é de uma guerra devastadora para o psicológico de pessoas negras e também no combate dos preconceitos raciais, de gênero e da homofobia.

Micro e Macro Violências

Em suma, existe uma cadeia de violências (no micro e no macro), que precisa ser quebrada e modificada para termos uma educação antirracista.

Afinal, nas esferas maiores (legislativas e normativas), de forma generalizada –  O poder da caneta está nas mãos de homens brancos em uma guerra de uma educação por castas e excludente versus uma educação humanista de molde europeu.    

Já nas linhas de frente do ensino infantil ao ensino fundamental e médio. A aplicação dessas normas está nas mãos de mulheres brancas, pobres ou de classe média-baixa. As mulheres negras são minorias nas escolas como professoras, homens então, menos ainda. (segundo dados do INEP “Perfil do Professor da educação básica”).

Tendo em mente esse cenário podemos entender como as micro e macro violências que mencionei acima se reproduzem ano após ano.

Como exemplo do micro, posso citar o famoso “lápis cor de pele”. O termo pode parecer inofensivo a princípio, porém é um ponto ampliador na distorção da autoimagem de uma criança negra. O lápis de cor rosa-claro é geralmente nomeado como a cor de todas as peles, o que exclui a existência de se representar no seu próprio desenho. Sem uma orientação vinda de casa ou de um professor, muitas vezes as crianças negras não se pintam com a cor marrom, se deixando sem pintar ou ainda, escolhendo o rosa, pois é o que a professora ensina como “A cor certa”.  

Das pequenas até as grandes agressões 

Essa questão é agravada quando também não se tem a representação de crianças negras em desenhos animados mais conhecidos e utilizados nas aulas. Ou nas propagandas e cartazes de divulgação de excursões e eventos na escola. 

Para ilustrar uma situação que vivenciei em uma escola: Como trabalho de geografia ou história, uma professora pediu para que os alunos pesquisassem sobre as crianças africanas, e os resultados foram apresentados nas portas das salas de aula. 

Todas as imagens mostravam crianças negras com roupas velhas, olhares tristes, sujas, magras e em lugares pobres. Ao lado dessas fotos no corredor, um cartaz divulgava uma excursão da escola que era um evento de profissões e brincadeiras.

Nele, fotos de crianças brancas, loiras (provavelmente de um banco de imagens extrangeiro) se divertiam felizes. Havia ainda um outro cartaz, este fazia propaganda do Parque da Mônica. Novamente, somente crianças brancas na imagem. 

Diante desse contraste fotografei as imagens e mandei para o grupo de professores. quem sabe fosse repensado como estava sendo trabalhada a imagem da criança negra na escola.

Para muitos nem sequer passou pela cabeça tal reflexão. Pois para o corpo docente 98 % branco, a imagem da criança negra pobre, passando fome é normalizada e até esperada de se encontrar, enquanto a afirmação da criança branca como universal, a para quem o ECA foi escrito.

Circulo de violência e o racismo

Violências como essas são comuns e massacrantes no cotidiano das escolas. Pesquisas mostram que as crianças negras são as mais hostilizadas e deixadas de lado pelas professoras, assim, como são as mais excluídas pelos colegas. 

Este é um círculo vicioso do racismo estrutural, já que muitas vezes as crianças negras são as que vivem em situação de risco em casa, cercadas de violência, fome e até mesmo do simples carinho e cuidado familiar. Devido a todos os problemas sociais que cercam as periferias e os pobres. 

E se esses problemas são comuns durante as aulas, elas se acentuam nas festas e comemorações. Uma simples fantasia para o carnaval de princesas, sempre brancas. Ou a figura da “Nega Maluca”, perucas de cabelos crespos desgrenhados, as músicas de marchinhas racistas e machistas, por exemplo, ainda são comuns nas escolas.
Já ouvi casos até de professoras que utilizaram esponja de aço como cabelo. Colado em um cartaz de uma boneca negra para o mês da Consciência Negra… vejam só. 

Aliás, além dos costumes e da estrutura racista das escolas, nossos currículos, livros didáticos também são um problema. Falando apenas do ensino publico… A figura do negro e do indigna é sempre apagada e colocada como objeto da história branca e eurocentrica. E muitos professores ainda seguem essa visão. 

A lei 11.645/08 que previa o ensino da cultura afro-indigina na escola ainda é um desafio nos dias de hoje. E com o atual governo já sofreu ataques diretos.
E mesmo antes, a simples menção da cultura afro sempre foi marginalizada e literalmente demonizada. Seja qualquer música com tambor, ou qualquer manifestação cultural negra, é tachada de coisa do demônio, macumba. E nessa corrente as religiões de matriz africanas são as que mais sofrem pelo racismo religioso.

Nem com lei


Os pais de alunos chegam a ir a escola, ou a secretaria de educação pedir punição para o professor que ouse falar contra esses preconceitos, ou apenas aplicar a lei e quebrar os tabus contra a cultura afro. 

E é nesse embate com os pais de alunos, que novamente a barreira das professoras brancas se torna ainda mais clara. Principalmente em cidades pequenas, as professoras são “vassalas” das famílias de seus alunos.

Agradar a pais e famílias chega a ser a preocupação principal de algumas professoras e professores (principalmente no ensino infantil e fundamental I). Como se estivessem em um cargo político ou de popularidade. 

Se de um lado temos as crianças negras, muitas vezes com pais distantes ou ausentes da educação dos seus filhos. Do outro temos as crianças brancas, com famílias mais presentes e conservadoras, policiando os professores e reproduzindo os preconceitos religiosos e culturais.

Vai existir um alinhamento natural dos docentes com a estrutura opressora que os rodeia. 

Por uma educação Antirracista 

Então, diantes dessas realidades, como pensar uma educação antirracista real para as crianças negras do futuro? 

É possível, porém ainda está distante. Talvez o caminho mais rápido fosse os próprios negros se organizarem para criar as escolas afro.

Um local onde em uma rede segura, nossas crianças aprenderiam a sua história e seu valor desde cedo. Ciente do racismo presente fora da rede de proteção, sabendo como enfrentá-lo. Criando planos de como acabar com o racismo estrutural. 

Nessa realidade, nossos netos e bisnetos teriam estrutura, conhecimento e apoio para atingir os outros pilares que ainda escravizam nossas comunidades.

Entrando nas políticas públicas, justiça e no comércio. Já temos algumas experiências do tipo com escolas pan africanas. Porém são casos pequenos e promessas. 

Curto/ Médio Prazo

Para o curto prazo, devemos do apoio de brancos e não negros antirracistas, dispostos a ver os problemas dessa estrutura, e também a aprender onde erram e como podem combater esse racismo estrutural na educação. 

Indo contra alguns dos exemplos que citei acima é um pequeno passo que pode mudar a realidade de muitas crianças negras. 

Além disso, nós temos que estar mais presentes na educação de nossas crianças negras.

Cercando de representação, cultura e fornecendo matéria para semear ideias e esperanças nas imaginações dos pequenos.


Presentes como pais, professores, educadores, seja como for. De preferência conhecer mais nossa história e nossa cultura. Sempre combater falas e comportamentos racistas nas escolas, igrejas, trabalho.

Assim, estando mais presentes, e alterando a estrutura. Ter mais negros e negras escrevendo as leis e diretrizes, mais diretores, diretoras, professores e professoras. Protegendo nossas crianças e buscando quebrar o eurocentrismo no que consumimos e reproduzimos.   

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Lançamento Livro Retratos Apagados

51 Poemas, 12 Cronicas e 51 Contos – Diogo Nógue lança seu segundo livro.

Primeiramente, o ano está promentendo em lançamentos, além da antologia Pretos em Contos vol2, Retratos Apagados vai ser revelado!

No momento em que reúno os escritos desse livro, vivemos uma realidade onde a vida humana parece que perdeu seu valor.

Além disso, entre milhares de mortos em pandemias e violências cotidianas, as histórias e memórias parecem ser descartáveis, transformadas apenas em números sem rosto.

Então, o Livro Retratos Apagados é uma afirmativa ao valor das pequenas memórias. E como elas constroem a existência de uma vida, ou de várias vidas.

Assim, gravadas por meio da escrita e renascendo a partir da leitura, essas vivências se tornam eternas. Antes de tudo, compartilhando conhecimento, sentimento, empatia e saudade com aqueles que as lerem.

Dessa forma, o livro está dividido em quatro partes como álbuns de fotografias; esta coletânea reúne poemas, crônicas e contos de diferentes momentos da minha vida.

Contos, Crônicas e Poemas

Os cinquenta poemas que abrem o livro, foram escritos durante os anos de 2020 e 2021. Tiveram como principais inspirações fotos de família, lembranças de cheiros, sons e espaços da infância e adolescência.

Assim como temas que já trabalhei em minhas pesquisa de arte (escultura, pintura e desenho); pensamentos sobre como viver/sobreviver nesta sociedade que tenta a todo custo apagar as pessoas pretas.

As crônicas de 13 Preto e Vermelho foram escritas em 2013 como parte do projeto do mesmo nome. Nele, meu eu de 25 anos registra todos os dias 13 do ano com uma foto e um texto relatando as experiências e pensamentos vividos.

Invocando os simbolismos das cores e do número 13 com seus diferentes significados em diversas culturas e momentos da história da humanidade.
Busquei relacionar efemérides e presente em cada texto para discutir os prazeres, medos, sonhos de um cotidiano.

Já os contos, estão divididos em dois grupos: os curtos, escritos em sua maioria durante o ano de 2020. Foram parte do curso de escrita ministrado pelo escritor Plinio Camillo. Sendo que alguns deles já publicado na coletânea Pretos em Contos.

Já o segundo grupo, composto por contos mais longos, são histórias antigas como o “Por do sol em campos desertos” que escrevi com 14 ano; alguns deles já publicadas em blogs, fanzines, e outras inéditas como o “Bosque da Solidão”;


Espero que os diferentes sabores e imagens desses Retratos que teimam em não se apagar, possam encher a vida de vocês de significados, indagações, descobertas e momentos que deixem saudade.

Lançamento

O lançamento presencial do livro vai acontecer dia 02 de outubro no restaurante de comidas africanas Mamaafrica Labonne Bouffe. A partir das 15h estarei lá com exemplares do Retratos Apagados e Pedra Polida para tarde de autografos.

Venham prestigiar e adquirir seu livro.

Além disso, já está disponivel aqui no meu site para compra o livro no valor de R$35,00 + Frete para todo Brasil.

portanto, se liguem no endereço:

R. Cantagalo, 230 – Tatuapé, São Paulo – SP, 03319-000 – Dia 02 de Outubro as 15h!

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A influência de 2020 na subjetividade do homem preto, e como um Artista Responde.

Imagem divulgação – Série Quem Matou Basquiat

Desde 2004 desenvolvo minha pesquisa em pintura e desenho, tendo participado de exposições coletivas e individuais.  Em 2020, esse momento de pausa, possibilitou-me aprofundar em algumas. Assim finalizei duas séries que resultaram na exposição “O Que Nunca Vão Apagar”. Que teve espaço na Casa de Cultura Itaquera na periferia de  São Paulo em 21 de novembro.

Partindo da minha visão como homem negro, a mostra reuniu nove desenhos da Série “Quem matou Basquiat?” e duas pinturas “Desconversando o Eu”. Desenvolvidas sob influência do isolamento e do racismo violentamente registrado com imagens e requintes de crueldade durante o ano. Que no entanto são a ponta do iceberg do genocidio contra os povos pretos no Brasil. 

Utilizei nanquim, lápis grafite, tinta guache, acrílica e marcadores para construir imagens complexas,cheias de camadas,silhuetas, escrita e a anatomia do corpo humano, pensando como o racismo estrutural e a cultura eurocêntrica apaga e impõe limites de quem pode ser artista; De como tratar o legado desses, assim como os exclui.

Porém não foi uma demanda de agora, na realidade, o primeiro desenho que fiz da série foi feito em 2018 quando viajei para Brumadinho. Meu sonho era conhecer o Museu de Inhotim, o lugar que me deixou impressionado por vários motivos, alguns positivos e muitos negativos. 

Inhotim é a sintese do racismo extrutural brasileiro e consequencia direta da escravidão. 

E o que me deixou perplexo no museo foi o retrato da visão de arte do branco rico, onde o negro e o indigena tem espaço apenas em suas mazelas e pelo olhar do extrangeiro. Os dois dias de visita ao museu tinham me dado outra visão sobre a arte, a relação de poder que ela chancela, e o consequente apagamento de existências.

E voltando a Belo Horizonte, como uma epifania, ou respostas dos ancestrais. Cheio de malas, decidi dar uma última volta na cidade e ir no CCBB de lá, e me surpreendi quando vi que estava em  exibição a exposição do Basquiat, que eu tinha visto em São Paulo naquele mesmo ano, porém ali, depois da visita em Inhotim, ganhou um significado totalmente diferente. 

O prédio e a montagem de BH ressaltaram a grandeza do trabalho de Basquiat e era como se ele me respondesse e me indicasse as respostas que devemos dar.

Imagem: Desenhos I, II, III da série – naquim, lápis, marcadores, acrilica sobre papel – 2020

Série “Quem matou Basquiat?”

Em meu processo de criação, busco ter uma base narrativa para a criação das minhas imagens. Para esta série revisitei a história da vida de Jean. me vendo no seu lugar de homem preto, artista, encarando o racismo, estereótipos e os próprios problemas psicológicos. Digerir um momento onde se é erguido no lugar de “Preto Unico”. Já que na narrativa da arte eurocêntrica, a dita “História da Arte” ele foi o único erguido como gênio, ao lado de Da Vinci, Picasso ou seu colega Andy Warhol.  E até hoje isso acontece, seja em questões mercadológicas, onde os galeristas e colecionadores só se interessam em grande parte por seus trabalhos, seja no cenário acadêmico.

Tudo isso tem uma relação direta com a morte prematura de Basquiat. Enquanto suas pinturas e objetos valem milhões para galeristas e colecionadores brancos, ele não teve nada, não usufruiu de suas conquistas e morreu doente, com medo, inseguro de si. 

Novamente a humanidade roubada do corpo preto e o retorno a uma mercadoria. 

Essas questões e resgates que busco nesta série, refletindo sobre o momento que estamos vivendo e pensando nesse corpo preto que tem sentimentos, subjetividade, afetividade, medos e alegrias. Nas dificuldades de existência e expressão dessas subjetividades, já que a todo momento somos convidados a desistir, nos entregar a entretenimento barato, fuga da realidade, ou desacreditados pelas estruturas que nos exclui e nos matam – se não a bala, com doenças ou a desesperança. 

Imagem: Desconversando o eu – Oleo Sobre algodão – 2020

Díptico “Desconversando o Eu”

feito a óleo, faz a transição das silhuetas para o realismo, tentando tirar a imagem do corpo do simbolismo chapado que aparece nos desenhos, focando ainda mais na discussão do corpo preto estereotipado, onde os elementos elencados pela sociedade racista estão apagados. Elas são perguntas, chamamentos para se pensar a expressão de sentimentos, inseguranças, relação com o mundo e também falar de existência.   

Protagonizar e conquistar territórios

De certa forma a exposição “O que nunca vão apagar” é uma sintese do que foi 2020 para mim enquanto homem preto. Representativa de várias formas, primeiro que teve sua abertura no mês da consciência negra, segundo que discute as barreiras de ser um artista preto no Brasil e em mais de 10 anos, foi a primeira exposição que recebi para produzir. Terceiro que, infelizmente, a pergunta “Quem matou…” pode ser feita sobre Marielle, Miguel, Agatha, João Vitor, Evaldo, Amarildos e a lista segue… 

E finalmente, é um grito que diz, que apesar de tentarem, nossa existência e valor, eles nunca vão apagar.

Vista da mostra: “O que nunca vão apagar” – Casa de cultura Itaquera – SP 2020

Diogo Nógue (Diogo Nogueira Silva, 13 de Setembro de 1988 – )  é artista visual, escritor e ilustrador, nascido em Suzano-SP e vive em São Paulo. Formado como Designer Gráfico pela ETEC Carlos de Campos e Artista Visual pela Belas Artes de São Paulo. Entre seus trabalhos literários lançou os livros “Trovinhas das cores e amores” de 2016, o de poesias “Pedra Polida” de 2019 e participou da coletânea “Pretos em Contos” em 2020. Como artista visual tem suas principais exposições “Psicodrama” de 2004, “De onde os Medos crescem” 2017, “Entre o Real e o Sonho” 2018. 

Para mais reflexões sobre os temas abordados nesse artigo escrevi os textos 

Inhotim – A arte como Poder : https://www.diogonogue.com.br/inhotim-arte-como-poder/

Miguel de Rio Branco – Dualidade e apagamento – 

O Ano do (Re)conhecimento – https://www.diogonogue.com.br/o-ano-do-reconhecimento/

Ser ou não ser um artista negro – https://www.diogonogue.com.br/ser-ou-nao-ser-um-artista-negro/

Quem matou Basquiat ? – https://www.diogonogue.com.br/quem-matou-basquiat/

contatos:

www.diogonogue.com.br

Instagram e facebook @diogonogueart

*texto publicado no portal Geledes

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Exposição “O Que Nunca Vão Apagar” -2020

A exposição é uma reunião de desenhos e um díptico em pintura que busca discutir o corpo do artista negro em relação a uma sociedade racista e eurocentrica que tenta esteriotipar e apagar a vida desse sujeito.

Diogo Nógue é artista visual, escritor e ilustrador. Como ilustrador e escritor lançou os livros “Trovinhas das cores e amores” de 2016, o de poesias “Pedra Polida” de 2019 e participou da coletânea “Pretos em Contos” em 2020.

Desde 2004 desenvolve sua pesquisa em pintura e desenho, tendo participado de exposições coletivas e individuais dentre elas a mostra “Entre o Real e o Sonho” de 2017 na Casa de Cultura Raul Seixas.

Retorna com a mostra virtual “O que nunca vão apagar”. Uma reunião de 8 desenhos da série “Quem matou Basquiat?” e o díptico em pintura óleo “Desconversando o Eu”

 Utilizando de nanquim, lápis grafite, tinta guache, acrílica e marcadores o artista construindo imagens complexas e cheias de camadas que misturam silhuetas, escrita e a anatomia do corpo humano.

Reflexões de como o racismo estrutural e a cultura eurocêntrica apaga e impõe limites de quem pode ser artista, e de como tratar o legado desses, assim como a exclusão e as inseguranças que esse sistema causa aos homens negros são temas centrais das obras.

Assim como no díptico “Desconversando o Eu” autorretrato feitos à tinta à óleo em algodão preparado. O corpo de um homem negro é base para discussão dos estereótipos de força de trabalho e sexualização. Explorando a fragilidade e ressaltando um lado humano sentimental que é ignorado pela sociedade racista brasileira.

A mostra “O que nunca vão apagar” é uma reunião de desenhos e um díptico em pintura que busca discutir o corpo do homem negro, os desafios, medos, felicidades e tristezas que como a sociedade a sua volta o constrói e destrói.

A série de 8 desenhos chamada “Quem matou Basquiat?” feitos em papel canson na medida de 42×29,7 cm é a parte principal da exposição, onde utilizando de nanquim, lápis grafite, tinta guache, acrílica e marcadores vou construindo imagens complexas e cheias de camadas que misturam silhuetas, escrita e a anatomia do corpo humano. As temáticas destes desenhos partem como o nome diz da figura de Basquiat, um dos poucos artistas negros que são aceitos e reconhecidos em todo mundo como um “gênio-da-arte”, que porém morreu precocemente e não pode usufruir do seu legado. Essa reflexão de como o racismo estrutural e a cultura eurocêntrica apaga e impõe limites de quem pode ser artista, e de como tratar o legado desses, assim como a exclusão e as inseguranças que esse sistema causa aos homens negros são trabalhados nos desenhos.

Compondo essa montagem o díptico “Desconversando o Eu” são pinturas autorretrato feitos à tinta à óleo em algodão preparado. O corpo de um homem negro não padrão com rosto, mãos e pés pintados de preto e sem órgão sexual. Esta imagem apaga ou exclui os estereótipos impostos ao homem negro, tido apenas como força de trabalho manual e sexualizada. Nestas pinturas o homem negro que não consegue se comunicar consigo mesmo, se monstra em posição de fragilidade e busca levantar reflexões e ressaltar um lado humano sentimental que é ignorado pela sociedade em geral.

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Novo Canal no YouTube

Olá amigos, durante muito tempo tenho usado o Youtube apenas para postar videos pontuais de exposições e trabalhos experimentais de videoart.

Porém nesse ano, vou utilizar a plataforma mais ativamente, com videos de processos de ilustração, pintura, pensamentos teóricos sobre a arte e o trabalho de artistas que admiro.

Atualmente estou recuperando alguns videos e fazendo alguns testes sobre os speedraws. Além disso gravei algumas músicas que escrevi em épocas diferentes e pretendo gravar outras. Quero que o Youtube seja meu canal de divulgação de lançamentos e contato com o publico e minha arte já que é dificil depender de instituições e outras formas para que o trabalho se expanda.

Dessa forma, gostaria de pedir a todos que ainda não estão seguindo o canal, para irem lá e darem uma visita e curtirem as músicas e processos que já estão lá.

Veja agora alguns videos que já estão lá

Speedraw – Esboço, e finalização em nanquim. quase um tutorial.

Neste video eu mostro um passo a passo de um sketch estudo de pose, e finalização em lapis e nanquim.

Speedraw – Retrato realista a lápis

Neste video eu mostro o passo a passo de uma encomenda de retrato a lápis. com base em foto, fiz esse desenho realista e mostro o passo a passo para criar luz e sombra.

Música Cadentes

E como exemplo das músicas, deixo pra vocês essa gravação de Cadentes. Música que escrevi ano passado.

Sendo assim, espero que gostem dos novos conteúdos e que acompanhem o desenvolvimento do trabalho.

Muito obrigado a todos.

Não se esqueçam se conferir a Loja.

Minha página no facebook e no instagram

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Lançamento de Novembro Quadros e Canecas

Chegou novembro, e este mês os novos produtos estão muito lindo e fortes!

Comemorando o mês da Consciencia Negra e também os preparativos da Exposição Online que estou preparando, escolhi a série “Quem matou Basquiat?” como tema das canecas e prints.

Com uma novidade. Serão dois prints do mês além da caneca.

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Caneca “Quem Matou Basquiat?”
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Print “Quem matou Basquiat 2”

Uma dica de um ótimo presente criativo para o fim de ano, e também um ótimo item para se colecionar.

Lembrando que as canecas e Prints são numerados em uma série de 1/10.

Para saber mais sobre a pesquisa, veja o post “Quem matou Basquiat” onde dialógo sobre os desafios de ser um artista negro nas artes visuais, e também de coo o contexto de racismo estrutural vai matando o artista preto.

Os novos produtos já estão na Loja. Confira abaixo:

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Lançamento de Outubro

Olá a todos! este mês temos o lançamento de novos produtos na loja!

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Aumentando a coleção e dando andamento ao projeto inicial, a ilustração Raizes negras 3 conta com prints e canecas numeradas em 10 cópias, assinadas.

Os Prints são em formato A3 em papel coche 180g sem moldura, e as canecas de porcelana com detalhes coloridos em amarelo.

A ilustração Raizes Negras 3 foi feita com em nanquim e acrilico e finalizado com pintura digital, buscando explorar as imagens da beleza negra, grafismos e padrões africanos e o afrofuturismo.

Cada mês teremos um produto em destaque novo, com ilustrações originais minhas e tiragens limitadas.

Colecione e presentei os que você ama com arte!

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Quem matou Basquiat?

Tive um tempo para refletir minhas influências e a partir da obra de Basquiat desenvolver novos trabalhos em desenho misturando os meus processos e alguns pensamentos da figura do homem preto.

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Ser ou não ser um “artista negro”?

Na nossa sociedade racista, escolher ser um artista negro é um desafio politico. Mas o que é ser um artista preto? neste post levando esse questionamento.

olhos que acusam

Conto: Olhos que acusam, mãos que tentam me prender

Conto sobre um rapaz preto que enquanto voltava para casa é acusado de algo que não cometeu.

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Miguel de Rio Branco: Dualidade e Apagamento…

Como continuação da discussão da “Arte como Poder” inspirada por Inhotim, neste post pretendo deixar algumas indagações e reflexões sobre a obra do artista Miguel de Rio Branco, que tem um pavilhão dedicado no museu de Brumadinho.

O Ano do (Re)conhecimento

Olá amigos, após um longo tempo sem atualizar minhas redes (Instagram,
Facebook e o Site), hoje estou finalmente voltando a ativa em meus projetos em arte, ilustração e literatura.

Felizmente, com muitas novidades sobre projetos novos que vão ser finalizados esse ano, como também recapitular algumas conquistas do longo caminho que venho trilhando até aqui.

Também quero discutir aqui algumas dificuldades e momentos de incerteza que se passaram nos últimos meses e como mudei depois desses momentos. Então… vamos lá!

Em 2009 tinha acabado de me formar em arte com méritos na Belas Artes de São Paulo, me sentindo no meu melhor momento artístico, descobrindo o início da minha poética e explorando os meus processos pictóricos com a série de trabalhos “De onde os Medos Crescem”. Com essa pesquisa tirei nota 10 no meu TCC e o convite para expor no próximo ano na faculdade.

A exposição 11 Lições foi a minha segunda coletiva na B.A, e contou com ótimos trabalhos de grandes amigos artistas. Como nossa primeira mostra formados e com o apoio da universidade na divulgação, contatos com críticos e galeristas, a nossa expectativa com a repercussão do evento eram grandes, e em grupo, nós, os 11 artistas participantes, buscamos tirar o máximo desse acontecimento.

Infelizmente, a vida real é mais complicada que o roteiro de um filme, e a
mostra foi apenas uma experiência para meu currículo e não rendeu nenhum outro convite ou contato que pudesse me ajudar a ir além.

Mas isso já era esperado, o circuito de arte sempre se mostrou de portas bem fechadas para mim, a tentativa de entrar em um sistema feito para pessoas ricas, brancas, de berço e com contatos sempre me pareceu uma conquista impossível.

Porém não desisti mesmo assim e em 2010 e 2011 desenvolvi o projeto
“Maleta Existência I” era um conjunto de 3 catálogos contendo meus
trabalhos, pesquisas e projetos. Produzi um número de 100 exemplares e enviei em torno de 50 cópias para os principais museus, galerias, críticos de arte e centros culturais.

Como retorno, apenas um crítico, que agradeceu pelo material e com palavras diretas disse resumidamente “o caminho da arte é difícil, e mesmo aqueles que tem algo a dizer podem levar muito tempo para ver seu trabalho reconhecido”. E ele não estava brincando…

Os anos foram seguindo, e eu tentando produzir arte enquanto trabalhando
como Designer Gráfico, sempre com empregos que pagavam mal e muita cobrança.

Anotando em meus cadernos os trabalhos de arte, contos e livros, porém sem tempo para executá-los de verdade. Conseguindo ao menos uma vez por ano ter uma série nova de desenhos, pinturas, objetos ou fotografias… submetendo portfólios a inúmeros salões de arte… na esperança de ser chamado para algum e quem sabe, aí sim, entrar no circuito.

Mas parecia que eu estava sempre perto e distante de conseguir algo, e as
dúvidas começam a surgir…. Será que meu trabalho é realmente bom? Será que estou produzindo arte contemporânea? Será que consigo me passar como pertencente ao panteão de ARTISTAS de verdade? O que tenho que mudar então? Como evoluir?

E fui então em busca de livros, frequentando aberturas, galerias museus…
andando a pé, pegando metro, ônibus para chegar nos espaços expositivos tão distantes para mim, que demandavam tanto trabalho para apenas conhece-los… imagine para fazer parte deles?

Consegui entrar para uma expo de trabalhos coletivos “Troy-art”,
depois para um catálogo de Galeria (em um salão pago… no Rio) e depois
finalmente, em 2016, fui selecionado em uma submissão para uma expo coletiva em um Centro cultural em Santos… E aí nvamente a chama se acendeu… talvez seja agora que eu entre para os circuitos, quem sabe consiga vender algum trabalho… quem sabe algum critico veja minhas obras. Ou quem sabe, consiga outros espaços para expor….

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A exposição “De onde os medos ganham força” foi linda e trabalhosa
de organizar. A prefeitura de Santos fornecia apenas o espaço, todos os outros custos seriam por minha conta. Por sorte, em minha carreira como Designer, conseguia poupar alguma grana para financiar meus projetos de arte, e com a ajuda de família e amigos, consegui levar para Santos 13 obras, compostas por desenhos e pinturas. A minha curadoria tinha o intuito de apresentar a trajetória até o momento da minha linguagem visual, e como eu buscava desenvolver a pintura.

Fiz ampla divulgação, enviando e-mail e convites para críticos, museus e
galerias novamente. Porém por ser em Santos, sabia que seria difícil para
qualquer um comparecer a vernissage que seria em uma Sexta a noite.

Apesar da esperança de algo grande acontecer, não fiquei decepcionado por
não ter um público tão grande na minha abertura, e pude contar com família e amigos fazendo parte daquele momento mágico… Sempre via como mais uma barreira vencida, mais uma vitória, mesmo que mínima. E assim seguia em frente.

Em 2017 consegui mais uma mostra individual, agora em São Paulo no Centro Cultural na Zona leste, e levei alguns desenhos e novas pinturas. E também uma exposição alternativa de um coletivo, onde fiz uma Pintura da minha pesquisa afrofuturista em um Prato.

Parecia que agora eu só tinha que manter essa média, e seria fácil…. Uma expo por ano, seja onde for, seria algo muito positivo para eu divulgar e espalhar minha arte.

Fiz o meu site novo, investi na minha página no Facebook e no Instagram… e 2018 prometia ser ainda melhor. E de fato foi.

Consegui 2 espaços expositivos para esse ano, onde levei minhas pesquisas de desenho “o corpo negro” e “Imagens Vestígio”, e nesse meio
tempo também passei a trabalhar como Professor, deixando de lado a carreira no DG.

Isso me deu mais tempo livre, porém aprender a ser um professor para ensino fundamental foi um novo desafio, e a rotina de preparar aulas, estudar e produzir arte se tornou muito cansativa.

Dessa forma que chegamos a 2019, cansado, com 4 exposições individuais nos últimos 4 anos, porém que não trouxeram novas oportunidades para o ano. Porém meu foco seria a publicação do meu primeiro livro, e escolhi o projeto de Poesia que estava engavetado.

Desenvolvi o “Pedra Polida” enquanto estudava desenho, arte, francês e ser professor… Não foi fácil. Porém quando finalmente tinha em mão a versão final do meu livro, tudo tinha valido a pena, até mesmo carregar os livros por 7 quarteirões.

Consegui o espaço para o lançamento em Suzano, no Centro cultural da cidade.
Em uma sexta-feira novamente, após o horário de trabalho. Novamente contando com minha família e amigos, foi uma festa linda, e uma experiência única e mágica. Tinha conseguido vencer mais uma batalha, apenas usando minha vontade de criar arte e produzir.

Mas após o lançamento, me senti totalmente esgotado, e desde então não
consegui mais produzir arte. Sem escrever, sem desenhar, sem pintar. Pareceu que minha vontade tinha sido totalmente sugada. Uma barreira se fez entre mim e meu trabalho criativo… tudo parou.

Nesses 10 anos em busca de me estabelecer como artista, nunca parei de fato de produzir, porém por necessidades diárias, diminui bastante minha criação em todas as áreas, mas aparentemente tinha chegado em um esgotamento total.

Estava precisando de férias do estado de mente criativo, e ainda preciso.
Precisava parar para organizar prioridades e depois executar uma coisa de cada vez. Minhas tentativas de fazer um pouco de cada coisa, não estava dando muito certo.

Entro então em 2020 com o propósito de não parar e não desistir nunca. E de ir além. Tendo a literatura e arte sempre como meus maiores guias.

Este ano vou divulgar ainda mais meu trabalho, estudar e produzir ainda
mais. E pretendo me abrir ainda mais para o mundo. Por isso a primeira coisa que estou fazendo é finalmente tirar do papel o meu canal no YouTube, com vídeos que vão mostrar minha produção, pesquisas, discussões sobre artistas, tipos diferentes de arte e me conectar ainda mais com quem quer consumir minha arte.


Em um segundo momento este ano, também pretendo lançar dois livros. O primeiro será um romance adulto, que vai falar de vários assuntos relativos ao homem preto na sociedade atual. E também um livro infantil, projeto chamado Beto & Bene, que vai buscar incentivar a criatividade da juventude preta.

No campo da arte, duas séries novas vão compor ao menos uma mostra de
desenhos no segundo semestre, e também a Maleta “Existência II” vai ser lançada até o final do ano, e enviada novamente para críticos, museus e
galerias.

Para quem está interessado em fazer parte dessa minha jornada, na loja do meu site, vocês vão encontrar vários materiais aqui citados. Dentre eles a Maleta Existência I e também o Livro Pedra Polida.

E para ficarem por dentro das festas de lançamentos e eventos futuros, sigam minha página no Facebook.

Conto com todos vocês, amigos, familiares, fãs e desconhecidos nessa  jornada em busca de tornar o mundo um lugar mais agradável de se viver com a arte.

 

Muito Obrigado!

Diogo Nogue 26/02/2020

capa-postagem-pedra-polida

Pedra Polida – Poemas da Zona Mental

Saiba como foi o desenvolvimento e criação do meu livro de poesia Pedra Polida. Com lançamento previsto para o segundo semestre de 2019.

Inhotim – A arte como Poder

Inhotim – A arte como Poder

Território é um dos principais elementos de poder. Os animais e nós, seres humanos descobrimos que é o mais importante.

Inhotim é em primeira instância este tipo de demarcação, em segundo lugar é uma exaltação do poder do dinheiro e por último, a Arte vem para reforçar os dois primeiros ícones de poder. Como sempre foi. Território, dinheiro e Arte = Poder.

Podemos pensar em todo Museu como demonstração de poder. A coleção de objetos e preservação da memória (muitas vezes de “conquistas”, roubos…).  Possuir o conhecimento, assim como as “relíquias” que o represente, torna a sociedade que os detém mais sofisticadas. Transformar coleções particulares em públicas (ou emprestá-las), da notoriedade e acrescenta o valor das peças.

A cada passo em Inhotim essa ideia é martelada e parece ser sussurrada junto com o canto dos pássaros, insetos e os animais que passam correndo pelas arvores. O Museu é sobretudo um grito de poder branco à brasileira, que se espelha sempre na Europa e Estados Unidos.

É um retrato fiel da estrutura racista brasileira, partindo da origem do dinheiro e patrimônio do seu idealizador, passando pela forma que o acervo conta a história e fala sobre arte, até chegar nas placas de empresas patrocinadoras e o claro caráter corrupto de sujeira impregnada em cada prédio arquitetônico, jardim paisagístico e lago artificial.

Desvio para o vermelho – Cildão

Após essa introdução, quero aqui fazer uma análise da experiência estética que foi a visita ao Museu e Jardim Botânico de Inhotim, vendo o parque todo como passível de leitura conceitual.

Em primeiro lugar a visita a Inhotim é maravilhosa, e  o deslumbramento define cada segundo lá dentro, grande parte disso é consequência da natureza por si só, as grandes arvores, vegetação natural e animais. Em segundo a mão do homem usada para lapidar e organizar os espaços, jardins, flores, e elementos arquitetônicos que parecem buscar a harmonia com a natureza.  A cada centímetro encontramos o perfume perfeito, a fotografia mais bela, a luz ideal, as cores mais vivas.

Rouge – Tunga

Em essência, temos a ideia de santuário, e talvez por isso a peregrinação entre os territórios e monumentos em nome das Musas da Arte se faz tão querente. Cada prédio que abriga uma ou algumas obras de arte parecem querer dar razão para a existência não só dos objetos, mas do próprio fazer artístico. Andamos de “templo em templo” apreciando Ídolos, reverenciando entidades.

A Narrativa de poder é óbvia, sínica e ofensiva, mas procura te distrair com a beleza e encantamento. Novamente o poder do território se faz nos nomes dos pavilhões, afirmando uma história da arte vitoriosa. A grandiosidade é a marca daqui, e talvez a ideia de santuário fique ofuscada pela sensação de calvário.

Para um branco, a visita ao Museu deve trazer orgulho e talvez até felicidade de “ser brasileiro”. Porém para um artista negro, estar em Inhotim é se sentir estrangeiro no próprio país. Chega a ser cômico olhar toda aquela pantomima, mas a afronta é clara e direta, talvez… só talvez, inconsciente.

Pavilhão Adriana Varejão

Aprendi a apreciar e reverenciar alguns dos artistas imortalizados aqui, Adriana Varejão, Tunga, Lygia Pape, Edgar de Souza, Matthew Barney são os que tenho mais “carinho” e ligação pelas temáticas discutidas. Outros nomes são reconhecidos pelas instituições e colecionadores, que até respeito e compreendo. Porém parecem apenas reforçar a demonstração de Poder, seja no fazer da arte (como furar um buraco de 200 metros no solo para se captar o som produzido, ou fincar vigas de ferro enormes no chão), ou no conceito de possuir e a partir disso demonstrar força.

Em Inhotim o poder de fazer é tão importante quanto o de dominar, o pretexto é falar da arte, de questões do ser humano, mas na realidade é uma ode as mãos brancas. Em primeiro plano temos uma família loira de olhos claros, e como fantasmas e esqueletos em cada parte do parque as mãos negras e indígenas sustentam essa fachada, tanto nas obras quanto nos funcionários, monitores, seguranças e etc.

Pavilhão Tunga

 

São as próprias obras de arte que vão nos contando essa história, em suas lacunas e entrelinhas (como acontece também fora do museu). Em primeiro lugar, a galeria da Adriana Varejão, quase que central no parque, com suas paredes de carne e ossos, azulejos craquelados parece nos dizer que todas as paredes de Inhotim são feitas do mesmo material humano e que se mantém escondido. No vermelho sangue pendurados sob o lago de True Rouge, e também nos esqueleto e caveiras penduradas na Casa de vidro de Tunga.  Como em uma demonstração de culpa cínica, as Galerias de Miguel de Rio Branco e Claudia Andujar com suas câmeras estrangeiras, vão registrar comunidades negras e indígenas sendo afetadas pela mão branca. De maneira um tanto quanto parasita e ofensiva (que merece um texto a parte).

Território é poder, dinheiro é poder, arte é poder – Inhotim é isso, a demonstração do poder fazer, não importando de fato os meios para se fazer. Pois é preciso falar de composição, cor, de espaço, de não lugar, da solidão, da multidão invisível, de cidades derretidas como cemitérios de velas, de pessoas derretidas em cenários de guerra, ou simplesmente a facilidade que o poder te dá de materializar ideias absurdas.  Isso é Inhotim.

(veja algumas fotos que tirei em Inhotim no meu Instagram pessoal)

Adinkra, Horus e Baobá – O novo logo

O Nascimento

Com o lançamento do novo site, resolvi renovar mais uma vez o meu logo. Dando uma atualizada nas linhas, limpando elementos, composição e adicionando símbolos e uma visão afrofuturistica do design. Gostei bastante do resultado, pois ficou mais proximo do que eu tinha imaginado em 2007.

A primeira versão tinha como objetivo fugir de um logotipo baseado em conceitos padrões do design dos 00’s (voltado para síntese, pouco elementos). Tinha em mente o acumulo de elementos e brasões de armas ou de famílias reais. Também queria algo bastante simbólico, que tivesse uma relação próxima com minha produção de arte.

Por isso, os elementos do olho ( espelho da alma) e as asas (liberdade e imaginação) já estavam presentes. Neste momento eu tinha criando um desenho carregado, cheio de pontas e manchas pois queria algo “sujo” visualmente. Porém em 2015 resolvi atualizar esses conceitos, limpando o desenho das asas, olhos e letras.

Então adicionei o conceito de escudos africanos como forma de silhueta e as formas circulares e espaço negativo por trás do logo forma ideia do infinito, o olhar ficava preso na forma e encontrava em seu centro a alma e nela o simbolo de fechadura (possibilidade de descoberta).

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Arvora Baobá – Ankh – Escudo tribal – Olho de Horus.

 

O novo logo

Continuando a desenvolver esses elementos já ditos acima. Decidi adicionar o Baobá (arvore sagrada, raízes ancestrais) em negativo ao centro do logo com a fechadura em seu caule, e o adinkra  Ananse ntontan (criatividade e sabedoria) abaixo das asas, levando o Ankh aos olhos fortalecendo a ideia de Hórus com os olhos e suas asas, a lua, imaginação, imortalidade.

Em resumo, o novo logo reúne diferentes referências de vários grupos africanos, e busca trazer a força ancestral da criação, imaginação, vida, eternidade e força que são as marcas do povo preto no mundo. Nosso sangue rega o mundo de conhecimento, filosofia e arte!

O Renascimento

Estamos vivendo um novo momento, pois a nossa comunidade preta está estudando, retomando seu protagonismo em pesquisas, teorias e filosofias. De onde viemos, e quem somos não pode ser definido pelas normas e dogmas escolhidos pelo povo branco. Devemos a cada pedaço definir nosso território e nossa perspectiva como africanos e povo preto. E nesse caminho nada melhor que repensar nosso olhar como de um sujeito Afrofuturista – que recria e repensa o mundo de acordo com suas raízes.

Ao desenhar meu novo logo tinha isso em mente, e por esse motivo que me sinto tão contente com o resultado e pretendo usa-lo como marco pessoal para que a partir dele traga para o site esse olhar Afrofuturista.

E vocês, o que acharam?

 

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Um Novo Site, um novo começo!

Bem vindos!

Nos últimos anos, com o crescimento do meu trabalho, comecei a desenhar novos planos e estratégias. Então a ideia era fazer com que minha arte chegasse a públicos maiores.

Pensei em um site que pudesse reunir todas as minhas pesquisas e também fornecesse aos meus admiradores conteúdos exclusivos.

Depois de muitas pesquisas e planos, finalmente chega ao ar o portal Diogo Nogue art. Contando com a ajuda de uma agencia especializada e inovadora, a Next Step, consegui dar vida e forma a um sonho de reunir em só lugar uma plataforma de registro, divulgação e também de venda dos meus trabalhos.

O desafio

No cenário de arte, é cada vez mais importante o artista dominar os meios de produção e distribuição dos trabalhos. Para não ficar dependendo das instituições e preso a velhos dogmas da industria ou dos sistemas (galerias, museus, editoras, gravadoras).

Por isso, é comum para nós, artistas independentes buscarmos nosso próprio caminho para fazer nossa arte chegar diretamente onde importa – O público.
Para mim, ainda mais, como artista negro, o meu publico está em todo lugar. Mas é preciso pensar e dar destaque ao publico periférico que também está sempre dando sua força e motivação para continuarmos criando.

A busca não é apenas vender o meu trabalho autoral, mas acima de tudo, fazer ele chegar até as pessoas de forma que elas sejam afetadas de maneira positiva, reflexiva e afetiva. O desafio é compartilhar, criar juntos e fazer o mundo e nossa vida, lugares melhores para todos. Principalmente os que sempre caminham juntos.

É a força da comunidade, do engajamento e da vontade que vai fazer nosso povo, nossas buscas se tornarem sonhos realizados, e é por isso que precisamos estar juntos, comunicando, criando nossos palanques. E este portal tem esse objetivo maior. Estar com vocês!

Que a amizade nasça do conhecimento

Para uma amizade ser forte e verdadeira é preciso que a gente se conheça, por isso o portal trás a preocupação de apresentar quem seu, o que busco, minha visão de mundo e com isso, criar o diálogo com vocês, amigos visitantes e colaboradores.

Biografia: Aqui você vai encontrar um pouco da minha história de vida e saber das minhas influências e áreas de interesse.

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Projetos: Nesta página resolvi reunir as informações e pesquisas que desenvolvo nas linguagem de literatura, vídeo, arte, educação e ilustração. Você poderá ir fundo em coisas que fiz pela net desde os meus 14 anos até hoje. Além de publicações, criticas e textos sobre minhas exposições, livros e etc.

Blog: Na nova fase, o blog Desenhos e Devaneios vai ser muito mais ativo, aqui vou publicas textos sobre minha produção artística, criticas de filmes, música, exposições, livros; Dessa forma atualizações e novidades sobre lançamentos, mostras e videos serão mais frequentes! Fique ligado.

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Galeria: Para apreciar algumas fases da minha produção você pode visitar a galeria lá você vai conferir meus trabalhos de arte, ilustração e design.

A amizade também é feita de presentes!

Para mantermos sempre o contato e interação pensei a página como lugar de encontro, e também de trocas. Espero que possamos contribuir de forma positiva com a vida de cada um. Vocês amigos, são a causa e também o impulso de motivação para continuar criando.

Contato: Estou completamente aberto para conversas, trocas de ideias, sugestões e criticas. Vocês podem sempre enviar mensagens nos comentários, e-mails, facebook, instagram e twitter. Leio tudo que vocês postam e tento responder o mais rápido possível! Aqui no site a página de contato também tem todos os links das redes sociais e etc. Vamos conversar!

Downloads: Estou ainda trabalhando nessa sessão, porém já é possível adquirir conteúdos free para downloads, alguns pdfs literários, wallpaper pra celular, computador e tablet, e muito mais conteúdo está por vir. fique atento as postagem no blog, tudo que for grátis está lá. Além disso você também pode ver meus portfólios, currículos e outros presentinhos!

Loja: Finalmente a pagina Loja vai trazer meus trabalhos originais, prints, e produtos oficiais. Dessa forma você pode presentear as pessoas que você ama, amigos, e colegas de trabalho. Nada melhor que um presente exclusivo, criativo e raro (os produtos oficiais tem tiragem reduzida e assinatura minha). Quem sabe você queira começar uma coleção de trabalhos de arte? Então aqui também é seus lugar. Como artista independente é muito importante que vocês, meus queridos seguidores, também façam parte adquirindo e divulgando a minha produção. É sempre uma alegria entrar na vida de vocês com minha arte. Por isso, seja meus mecenas, faça parte!

 

Deixe nos comentários o que você achou do nosso site, e como podemos melhorar, sua opinião é muito importante!

Exposição “Imagens Vestígio” – Desenhos das lembranças

cabeçalho_imagens_vestígio

A partir do dia 27 de abril, a mostra Imagens Vestígio vai estar aberta a visitação no Lobo Centro Criativo.

A abertura será as 19h horas desta sexta. Os desenhos estarão a venda pelo período da exposição que termina em 25 de maio.

Neste post vou falar como surgiu a pesquisa e como os trabalhos da mostra foram feitos.

 

Imagens Vestígio – A Pesquisa

Imagens vestígio surge inicialmente como processo de criação, pesquisa de desenhos e símbolos que eu pudesse usar em minhas pinturas. Ainda em 2009 costurei meu primeiro caderno para usar entre a inda e vinda da faculdade e do trabalho. Para esse caderno escolhi um papel de cor escurecida chamado de Marfim. Sua superfície lisa e sua gramatura média permitiam diferentes usos de materiais, desde o lápis grafite, passando por marcadores, canetinhas e até aguadas simples.

Outro fator determinante para o resultado dos desenhos seria o material: Deveria ser fácil de se carregar e registrar, sem que me preocupasse com secagens ou atravessamento do papel. O feliz encontro e descoberta do Marcador da Montana Colors se uniu as comuns canetas nanquim, (que já usava por ter paixão por hachuras). Deste encontro, nasceu a característica forte, expressiva e simbólica que os desenhos do caderno foram tomando.

As primeiras páginas desse caderno no entanto foram de pesquisa de materiais, usei lápis de cor laranja, aquarela, marcador branco e outros, porém no encontro do marfim, preto e vermelho, foi que achei maior força.

Então saia todos os dias com meu companheiro de viagem, desenhando ambiente, objetos, pessoas em metrô ônibus, fragmentos de obras de arte e desenhos de imaginação, poemas, reflexões sobre minha produção, nomes de artistas, e outras infinidades de coisas. Buscando sempre um desenho sem esboço, direto no nanquim e equilibrando a composição com massas vermelhas uniformes, um universo imagético construído de resquícios de lembranças e registro de esquecimentos, foram se formando, misturando motivos antigos em meu repertório e criando novos.

Consequência do erro, acaso e embate entre material, controle motor e ideia,  cada folha do caderno tem uma história e ao revisitá-lo quase sempre sou transportados para o ambiente em que foram produzidas. As vezes a sala de aula, outras em um restaurante de comida barata, outras na mesa de bar de aniversário de amigos,  bibliotecas, quartos, estradas, ou a beira do mar.

paginas_do caderno

Toda essa pesquisa que continua até hoje passou por várias fases e meus pontos de interesse foram variando, entre Dali, Goya, Van Gogh, Octávio Araujo, Daniel Senis, Eva Hesse, e tantas outras referências. O meu olhar pelo mundo buscava a relação do corpo com objetos, espaços, com o outro, o real e o sonho.

É interessante pensar na dinâmica de criação dessas imagens, e a relação com o resultado final. Por serem desenhos rápidos, de registos de imagens, pessoas, lugares que estavam passageiras no meu cotidiano, os desenhos tem uma natureza fragmentada, inacabada. Pois muitas vezes o motivo de estudo era perdido, ou interrompido pelo trajeto que tinha que percorrer, uma aula que chegava ao fim, e etc. E as vezes esse desenho só seria “completado” ou finalizado, dias, meses depois. Após ter passado por diversas novas experiências, a revisitação de cada página do caderno era e é constante, A revisitação de memórias, a relembrança, e sobreposição de camadas que ficaram gravadas na feitura de cada página, são o coração desses cadernos.

desenho caderno 2

O primeiro caderno foi finalizado por volta de março de 2010, o segundo foi iniciado em Julho de 2010 e foi nesse momento que as questões da fragmentação se tornaram um motivo consciente e uma busca do corpo recortado, rasgado, costurado, aberto, deformado, muculos, ossos, se tornaram frequentes, o que remetiam a uma violência, a morte e o terror para muitos que observavam o resultado final. Porém o interesse nesses motivos era o poder da linha expressiva, e o como ela potencializava essa violência. Em contra partida, deixei de usar o marcador vermelho em 80% dos estudos, buscando evitar o simbolismo do sangue, dando aos corpos um caráter menos carnal. Com palavras chaves, tiradas do trabalho de Leonilson (Numeros, mãos, cabeças, ramificações, tempo, passagem, corpo, a palavra) e ações (carregar nas costas, segurar junto ao peito, voar, cair, se perder) o segundo caderno se finaliza apenas em março de 2015.

O terceiro caderno iniciado em Maio de 2015 e que ainda estou usando vem me trazendo novas reflexões e busca por representações menos eurocêntricas. Uma visita aos símbolos e imagéticas negras vem sendo minha maior preocupação na criação das imagens no momento. Os fenótipos foram mudando, novas experimentações de materiais e estilos de desenho deixaram as paginas mais variadas.

A Exposição

obra_a rainha na montanha

Para a exposição, resolvi resgatar algumas páginas dos cadernos, desenvolvendo trabalhos maiores e que reconstroem acasos, acidentes, tornando escolhas conscientes processos que tiveram um outro tempo e natureza de nascimento. Além disso, procurei reunir dois grupos de imagens, com natureza distintas nos trabalhos da amostra. No primeiro temos imagens completas, com tons simbólicos e força dramática que conversa com a referência de cada expectador, porém com interpretações mais fechadas. O segundo grupo constrói simbolismos e desperta sensações e interpretações mais abertas, que produzem leituras mais românticas, violentas ou fantásticas de acordo com quem as vê.

Essa revisita as lembranças de 9, 7 anos passados, produziu resultados interessantes e pretendo continuar esses transporte e resignificação dos fragmentos das memórias registradas.

Além também de tornar publico essas pesquisas que ficavam confinadas em meus cadernos, possibilitando novas leituras, e enriquecendo minha poética para futuros trabalhos.

Quem quiser conferir pessoalmente esse trajeto está convidado a visitar a mostra tanto na abertura, como no decorrer do mês de maio.

 

Serviço:

Exposição Imagens Vestígio – Diogo Nogue

Local: r. capitão cavalcanti, 35A – vila mariana/sp

Visitação: Segunda a Sábado 

Site: http://www.lobocc.com.br/

Abertura: 27/04 as 19h

 

diogo-nogue-exposicao-10-faces

Exposição 10 Faces: do traço a cor

artista diogo nogue e trabalhos da série faces espelhos

Mostra reúne retratos de diferentes pesquisas com o tema da beleza negra.

Olá amigos, ano começa com muito trabalho e exposições. Dessa vez o convite veio do Projeto 29 Cultural promovido pelo Cartório 29ª da região de Moema. A Tabeliã Priscila Agapito abre seu espaço para mostras. Assim promover um ambiente mais rico para seus clientes e fomentar a cultura.

Com ajuda de montagem e curadoria da artista Gi Archanjo, um lugar que geralmente é sério e monótono, criva vida com a arte de novos artistas.

Diante de uma oportunidade tão especial, decidi reunir algumas pesquisas ainda em desenvolvimento e recuperar algumas ideias que ficaram no caminho.

Dessa seleção é que ficaram os 10 trabalhos que vou levar para a mostra que tem a abertura programada para 19 de fevereiro, ficando em cartaz até 31 de março.

exposição 10 faces afrofuturismo

Saindo de retratos com lápis grafite, passando pelos nanquins com uma ideia afrofuturista e chegando aos retratos de guache, onde a cor da pele negra é o maior o meu interesse maior.

10 faces são perguntas que venho me fazendo em busca de uma ancestralidade, representatividade e apropriação de uma visualidade que tenta fugir do padrão eurocêntrico, e tenta beber na observação do povo negro no mundo atual e em realidades fictícias.

Sinto que ainda tenho muito que aprender e pesquisar para chegar em uma resposta e novos caminhos para minha produção. É importante dizer para mim mesmo que as perguntas estão sendo feitas. Melhor ainda é poder compartilhar esse caminho com outras pessoas.

 

Serviço:

Exposição 10 Faces: do traço a cor

De 19/2 até 31/03

Onde: 29º Tabelionato de Notas da Capital

Endereço: Alameda Jauaperi, 515 – Moema – São Paulo

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Exposição “Entre o real e o sonho”

Com trabalhos novos, exposição aponta nova forma de pensar a imagem

Olá amigos, desde o dia 07 de outubro está rolando a exposição “Entre o Real e o sonho”. A mostra reúne algumas pinturas da série “De onde os medos crescem” e uma pesquisa de retratos que investiga a estética e representação preta. Esta  é uma tentativa de levar uma pesquisa de arte contemporânea para a periferia, lugar de onde vim e que merece sempre receber e valorizar a arte produzida aqui.

Diogo e suas pinturas “Brinquedos que não foram meus” e “No fim somos o que fizemos de nós”

 

A abertura foi muito divertida, apesar de a chuva ter atrapalhado um pouco. Porém foi legal falar da minha produção e pesquisa e tirar dúvidas com o publico.

 

 

Dividindo Conhecimento

Na semana seguinte ministrei uma oficina com alunos do CCJ da região. Apresentei a técnica da aguada, e conversamos sobre semiótica, símbolos e como podemos criar imagens com apropriação de signos do mundo.

 

 

A troca tem sido muito positiva em todos os pontos.

O encerramento da exposição vai ser dia 29, ainda da tempo de conferir os trabalhos e deixar suas impressões.

 

Obrigado à todos que participaram desse momento!

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Acervo Livre e Diogo Nogue – Toda felicidade tem fim, ao fim do carnaval

trecho do conto "seu livro na minha mochila"

Trecho do conto da cuidadora Ana de Oliveira

Nova Parceria

Olá amigos, março chega com uma novidade muito legal para os leitores do blog Desenhos e Devaneios e Zona Mental, pois  Acervo Livre chegou junto com uma parceria de conteúdo.

Fui convidado pela galera do #acervolivre à participar do site e contribuir com textos, ilustrações e poemas.

O Acervo é um site colaborativo em que os cuidadores contribuem com seu material artístico/literário buscando fomentar a palavra e compartilhar visões de mundo.

Leiam um fragmento do #manifestolivre:

“o escritor vive na palavra
que é a negação da morte
“leiam-nos,
não nos deixem morrer!”
nesse micro ponto do espaço virtual
um pouco de nossas entranhas
fibras, ideias, dia a dia, sonhos, dramas
sob doses absurdas de poesia
sob doses absurdas de liberdade”

Sempre na primeira Quarta de cada mês farei uma contribuição para o #acervolivre! Espero que gostem e compartilhem.

Sigam tb no Instagram @acervolivre

Fiquem com um trecho da minha primeira participação e confiram a integra no site:

 

“Toda alegria tem fim, ao fim do carnaval.

 

Sim, chega a hora que as mascaras caem.

Que as rosas secam

Que o confete não vai estar mais lá.

 

Chega a hora em que temos que dizer adeus

O momento de pedir aos céus…

Um pouco mais de tempo.

Um pouco mais de contentamento

 

Sim, vai chegar a hora que não vou estar com você

Vai chegar a hora que irá me perder.

Não que seja desejo meu,

Não que você desconheça o que perdeu.

Sei que todos nós faremos escolhas

Sei que todos regam suas próprias folhas.”

 

 

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Exposição Pratodos – 40 artistas tendo o prato como suporte!

O Prato como suporte, uma ação social por base

detalhe – prato raízes negras

 

Olá amigos, em Fevereiro a partir do dia 11, estarei participando da exposição coletiva Pratodos aqui em são paulo.

Para essa expo, foram convidados 40 artistas para intervir no prato como suporte. O mais legal é que os pratos estarão e parte da do dinheiro da venda será destinado a uma ong que prepara marmitas vegetarianas para moradores de rua.

Fiquei em duvida em qual das minhas pesquisas aplicar ao prato, porém no fim, acabei escolhendo a pesquisa visual da linguagem das Raízes Negras, (trabalho de ilustração que já postei aqui).

Nessa pesquisa, estou buscando desenvolver uma imagética de identidade negra, resgatando a simbologia, padrões e estética afro, e buscando uma atmosfera afrofuturista.

Neste trabalho iniciei uma pesquisa sobre os Adinkras, como símbolos principais.

Utilizei a acrílica e caneta dourada para trazer um efeito mais de realeza para a peça. O resultado ficou bem interessante. Diferente dos outros retratos da série feitos digitalmente, porém bem interessante na materialidade.

Para mais detalhes de como chegar a exposição veja o release abaixo:

Exposição Pratodos

O Prato, este é o suporte escolhido para a Exposição PRATODOS, onde 40 artistas apresentarão sua poética nesse objeto tão comum, mas cheio de significados e sugestões. Cada artista receberá um prato e nele terá liberdade total de expressão. A proposta é discutir a ética na alimentação nos dias de hoje.
As peças serão vendidas a um preço simbólico (R$60). Parte do valor será destinado aos artistas e o restante do dinheiro será revertido para uma ação que distribuirá marmitas veganas a moradores de rua. Os interessados terão duas opções: comprar pelo valor total (R$60) ou pagar metade do valor e se disponibilizar como voluntário no dia da ação.

O projeto foi idealizado e será realizado pelo espaço independente de arte GARAGEM ATELIÊ. A iniciativa é uma ideia antiga de um dos integrantes e foi inspirada em vários diálogos sobre o que comemos (de origem animal ou não), sobre a comida como objeto de estudo social e até mesmo a arte como algo que alimenta o espírito.

A festa de abertura e venda das artes acontecerá no dia 11 de fevereiro de 2017 no Garagem Ateliê, Ermelino Matarazzo, São Paulo.

LISTA DE ARTISTAS:

– Alcides
– Almir AS76
– Alan Alvico
– André Filur
– Bazco
– Bia Marins
– Dedoth
– Diane Motta
– Diogo Nogue
– Felipe BIT
– Felipe Urso
– Gabigo
– Fernanda Barbosa
– Gabi NIU
– Gi Archanjo
– Gil Douglas
– Gislaine Costa
– Ítalo
– Jana
– Ju Violeta
– Karine Guerra
– Lais da Lama
– Linoca Souza
– Marisasoou Lamah
– Moara Brasil
– Natália Manfrin
– Nautila
– Opeop
– Qel
– Rafael Limberger
– Raiza Limberger
– Régis
– Ricardo Cadol
– Samantha Prado
– Smup
– Tom Pina
– Vander xCHEx
– Vermelho
– William Mophos
GARAGEM ATELIÊ
Local de discussão, produção e exposição de arte na periferia da Zona Leste de São Paulo. O grupo que mantém o espaço (uma garagem de verdade), realiza atividades em conjunto com outros coletivos culturais e artistas da cidade.

Texto Piadas Racistas – Zona Mental

Olá a todos, se você não reparou, na minha página inicial eu deixo em destaque 4 links que vão para blogs de trabalhos paralelos que desenvolvi e desenvolvo até hoje. São eles o 13 Preto e Vermelho, Projeto o que deve ser dito, Caixa dos contos e o Zona Mental.

O Blog Zona Mental

Hoje vou falar um pouco sobre o Zona Mental e o novo texto que publiquei nele: Discutindo o racismo Texto 1: Piadas racistas 

O ZM foi meu primeiro blog, o iniciei ainda na plataforma Myspace da microsoft que era atrelada ao MSN Messenger. Era um brincadeira adolescente, onde publicava minhas duvidas existenciais, textos poéticos e reflexões. Por isso, se você olhar no inicio do blog vai encontrar muito sofrimento adolescente, duvidas do que somos, pra onde vamos e muitos erros de português! haha

Vai notar também uma grande evolução, principalmente em relação a poesia.

No decorrer desses 11 anos, publiqueis listas de musicas anualmente, reflexões, poemas, músicas que escrevi e muitas outras coisas.

Por ter passado do Myspace pro wordpress e agora no blogspot, alguns postagem mais antigas estão ilegíveis ou com uma diagramação péssima. (desculpe por isso, um dia ainda arrumo!). O revisitei recentemente e selecionei alguns poemas que achei mais interessantes e pretendo publicar ainda esse ano, ou no inicio do ano que vem.

 

Mês da Consciência Negra e minha visão

Porém nesse post é sobre uma série de texto que vou fazer esse mês, sobre o dia da consciência negra e o racismo de cada dia. Numa tentativa de contribuir e fazer as pessoas refletirem sobre os problemas que ele gera na formação das pessoas.

Segue uma parte dele:

” Com Novembro ai, uma vereador negro racista eleito, e alguns casos que ocorreram a minha volta em pouco intervalo de tempo… Farei uma série de posts para reflexão de todos.

Textão 1: Piadas racistas
Recebi duas vezes pelo whats (uma no grupo de escola e outra no grupo da família).
Uma piada racista onde um gênio da lampada (via que a Africa é um lugar pobre) realizava o desejo de 100 negros, e lógico, diante de uma oportunidade dessas o desejo de 99 deles foi de ser branco. Porém o 100º pede ao gênio para todos os outros voltarem a ser pretos.

Nossa… que engraçado.

Quando falei que a piada não tinha graça e que era racista, as pessoas primeiro diziam “naaao, não tem nada de racismo… podia ser qualquer um é que pegaram o negro… achei engraçadinha…” depois pediam desculpas, dizendo que não a intenção foi das melhores, de fazer rir, e que não eram racistas; uma por ser casada com um negro, a outra por ser negra.

Então, desenhando:

Existe uma coisa chamada Racismo estrutural. Ele está presente o dia todo, e faz com que algumas pessoas sejam beneficiadas e outras marginalizadas. Exemplos dele são quando pessoas brancas são preteridas á pessoas negras em empregos, relacionamentos, ou pro time de futebol na escola.
Mas também na abordagem violenta dos policiais, assassinato de mulheres e homens negros e a condição econômica. Por que?
Fazem apenas 128 anos que, por lei, os negros passaram a ser considerado humanos (isso mesmo… antes eramos apenas coisas) no Brasil. Liberdade ainda não conseguimos de fato, mas estamos na luta. E não foi uma princesinha branca que conseguiu isso não…

O racismo estrutural faz com que negros se achem feios, fracos, e amaldiçoados de fato. Algo que é implantado em nossas mentes diariamente. Por isso, existem mesmo muitos pretos, (crianças e adultos) que prefeririam ser brancos, pois todo dia, a rejeição, os xingamentos, a violência, convence esses irmãos que são indignos de felicidade e que apenas os brancos podem ser de fato amados, queridos e felizes.
O racismo estrutural ainda deixa a maioria dos negros ignorantes, sem consciência do que são, estamos alienados da nossa história. Não sabemos nada de nossos ancestrais, nossa cultura. Achamos que a Grécia, França, EUA, são o sonho e – todo um continente -, como a Africa “um lugar pobre”.
Errado.

A Africa sempre foi e é rica, inteligente e pioneira. A imagem do negro miserável da Africa é resultado de dominação e doutrinação. Não é uma vitimização – existem pessoas negras sem caráter, humanidade – que massacram outras pessoas negras com o auxilio e respaldo de brancos e outros pretos. Porém existem e existiriam muito mais pessoas negras e conscientes, e se amando e propagando sua cultura, se não fosse o racismo.
Mas relegados, sem autoestima, estrutura e consciência de sua história o negro é refém. E se tivesse a chance, no lugar de pedir uma vida digna, escolheria o caminho mais rápido: ser branco.
Por isso a piada não é nada engraçada. é puramente cruel.

Por último, o 100º negro, que ria de todos os pedidos dos outros, usa sua chance para reverter o desejo de todos os outros.

Este seria o “Tempo Cômico” da piada…

O que ele quer dizer:
O negro malandro, que prefere mais a zoeira do que a chance de pedir algo pra si mesmo, usa a mágica do gênio, não só para frustrar outros 99 de seus semelhantes (diante da maravilhosa perspectiva de viver uma vida de branco), mas demonstra todo o seu egoismo e imediatismo preferindo rir dos outros do que “fazer o bem para alguém” ou para si mesmo.

Então, não é só uma piada… é uma propagação ideológica e racista de uma imagem do negro…”

Confira a integra deste e outros textos, lista de músicas e poemas no blog Zona Mental.

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Abertura da exposição “De onde os medos ganham força”

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Abertura “De onde os medos ganham força”

Olá, neste último dia 17/06, teve a abertura da minha exposição em Santos.

Foi uma noite muito agradável e divertida, com presença de convidados especias, música e risadas.

 

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A mostra conta com 13 trabalhos (11 pinturas e 2 desenhos) desenvolvidos entre 2007 a 2014. E trabalham imagens simbólicas do conto De onde os medos crescem na parte principal. Enquanto que a segunda parte da mostra, reuni alguns trabalhos que foram processo da pesquisa e na tentativa de desenvolver um método de criação relacionando as imagens coletadas do mundo com a literatura.

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A exposição fica em exibição até dia 02/07 e todas as telas estão à venda. Acessando a loja do site, você confere todos os detalhes.

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Conto “De onde os medos crescem” – Download Free

Capa - de onde os medos crescem

Esta semana disponibilizei na parte de Downloads do meu site o conto “De onde os medos crescem”. O texto foi escrito como parte do processo de criação das minhas telas de pintura na série homônima.

Um artista que foi quem me mostrou que isso era possível e muito enriquecedor para um trabalho artístico foi o Tunga, que faleceu semana retrasada. Então como homenagem, dedico este conto e esse pdf á ele.

Para baixar clique na imagem acima ou aqui.

Segue abaixo uma reflexão sobre utilizar a literatura como processo para a pintura que escrevi na minha monografia de conclusão da graduação:

De onde as telas crescem: o conto como processo para a pintura.  

A literatura sempre fez parte da minha produção. E há alguns anos também desenvolvo minha pesquisa literária, com textos que tendem para uma atmosfera estranha, do fantasioso, onde os acontecimentos podem ser tidos como metáforas ou puro deslocamento da realidade. O que dá outro valor ao enredo do texto (pequenos detalhes ganham mais importância.)

Minha primeira experiência em unir texto e imagem, foi ainda no ensino médio. Onde fiz uma pequena exposição onde cada desenho tinha um texto ao lado.

Os textos poéticos vieram a partir dos desenhos e relacionava os elementos das imagens com a palavra. Estes textos não eram explicações nem descrições das telas, também não eram interpretações, mas por serem postos lado a lado, e por se alimentarem de elementos semelhantes ambos compartilhavam e ampliavam sentidos.

Durante o decorrer do curso de bacharelado, nunca cheguei a repetir essa interação, apesar de ter esse desejo. Alguns motivos adiaram essa minha investida, tais como: a possível relação ilustrativa entre imagem e texto, o direcionamento de interpretação da obra; e a indagação “se o texto já diz tudo que tem que dizer, qual seria então o sentido dessa imagem?”

Porém com meus questionamentos e experiências na procura de métodos para se construir uma imagem, cheguei, com a ajuda de orientadores, a estratégia de ler um livro, um romance inteiro, e fazer uma única pintura sobre este livro. Ser tomado por suas sensações  e estímulos tirando dele os elementos para se construir a pintura.

Este desafio trouxe novamente as antigas questões, mas trouxe também uma nova forma de pensar as imagens da pintura, suas relações e estruturas. Apesar de ficar satisfeito com o resultado dessa experiência, não era meu propósito inicial, usar um novo texto para esse projeto de conclusão.

Durante as minhas leituras de pesquisas para o pré trabalho de conclusão de curso, no entanto, entrei novamente em contato com um livro de artista que me deu a certeza de que era possível fazer essa relação entre uma obra ( de qualquer natureza: escultura, gravura, desenho, pintura, performance etc.) e um texto que sirva como fonte “mitológica”, processo de criação.

Este livro foi “O Barroco de Lírios” do artista Tunga (1952-)[1]. Neste livro o artista reúne algumas das suas obras mais importantes. A partir desses registros, vai mostrando o inicio de vida dos temas que utiliza e seus desdobramentos em diferentes trabalhos. Como inicio de cada trabalho Tunga coloca um texto, conto, relato, ou documento que fala da construção dessa obra, a idéia inicial, as referências e desdobramentos.

Porém esse relato, muitas vezes, como acontece, por exemplo, no texto “Xifópagas Capilares entre nós”[2] tem uma liberdade literária, que foge da realidade para criar um universo intrigante que envolve o leitor e mistura fatos reais com mitos e imaginação.  Esta aura vai impregnar suas esculturas e desenhos e darão uma unidade a elas.

Foi partindo desse pensamento que desenvolvi o conto[3] “De onde os medos crescem”[4] que une em sua construção as imagens vestígio, anotações de sonhos e relatos de história de família que são mais bem explicados no Anexo 2.

Até então todas as minhas pinturas anteriores vinham de um exercício de imaginar a construção da pintura relacionando símbolos a minha escolha, tentando preencher o campo de trabalho e dividindo as em camadas em busca de uma sensação intuída, mas pouco materializada.

Minha experiência na literatura me fez perceber a forma em que um conto ou texto é criado. Ao escrever a narrativa precisa-se passar credibilidade ao leitor, e também  conduzí-lo de forma que todas as palavras, frases e pontuação tenham uma importância determinante. É preciso cuidado, pode-se comparar a montagem de um quebra-cabeça, cada peça (frase) se encaixa em seu lugar, formando a imagem desejada.

Assim, ao inserir um contexto, as ações e símbolos que fazem as imagens precisam ser justificados textualmente, e vão compor um universo. O universo de um conto tem suas próprias regras (às vezes usando as regras do nosso mundo, ou criando novas) e elas precisam ser atendidas para dar sequência a história.

Acontece que seguindo essas regras de construção, o conto tem uma “vida própria”. Sendo assim, parto de uma idéia inicial para o texto, tenho minhas vontades, quero que determinados acontecimentos sejam a chave desse texto. Porém, para justificá-los vou inserir elementos, peças do quebra-cabeça, que não tinha em mãos a priori, mas que são fundamentais na formação do sentido do texto e da imagem que vai trabalhando os elementos pictóricos.

Esta força do enredo me faz construir imagens que eu não teria imaginado de imediato, pensar relações que necessitam de uma lógica diferente para se unir. Existe nesse sentido “um outro tipo de relação entre palavra e imagem” uma “experimentação verbalizada[5]. Assim “a narrativa verbal prepara uma futura ação plástica”[6].

Foi atrás desta lógica textual que foquei as minhas coletas de imagens e sonhos, defini temas, sentimentos e sensações para transpô-las para a série de pinturas apresentadas. Materializando e desenvolvendo aquelas sensações e imagens que antes eram apenas intuídas. Sendo assim, o conto “De onde os medos crescem” é  como um banco de imagens, que foi inicialmente pensado para a pintura, desenvolvido textualmente e novamente transposto para tela.

Este método de tradução de uma linguagem em uma segunda é conhecido como tradução Intersemiótica[7] e é objeto de estudo de Julio Plaza em seu livro homônimo. Plaza nos trás a seguinte definição:

 

“ A tradução Intersemiótica ou ‘transmutação’ foi definida por Roman Jakobson como sendo aquele tipo de tradução que ‘consiste na interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não verbais’ ou ‘de um sistema de signos para outros, por exemplo, da arte verbal para a música, a dança, o cinema e a pintura’ ou vice-versa”. (Plaza. 2001)

 

Como é dito por Plaza em seu livro, a tradução Intersemiótica nada tem a ver com fidelidade “pois ela cria sua própria verdade e uma relação fortemente tramada entre seus diversos momentos[8].

Quero dizer com isso que diferente do conto, as telas não tem uma dependência narrativa entre elas, e nem em relação ao texto. Não tento transformar, resumir ou capturar o conto em uma imagem, a tela não tem esse compromisso. Preocupo-me em me apropriar da relação interna do texto, de alguns estímulos e levá-los para o campo pictórico, fazendo que encontrem sua própria existência de acordo com meus procedimentos de pintura. Capturas diferentes momentos, ações e significados e traduzidos em uma imagem.

Em contexto expositivo as telas não dependem do conto, não pretendo apresentar o texto no espaço junto com a tela. E nem mesmo a montagem das telas no espaço precisa seguir a ordem em que elas surgem no conto, pois cada pintura fala de si mesma.

[1] Artista brasileiro ( Palmares, PE). Escultor, desenhista, artista performático.

[2] TUNGA. Barroco de Lírios. São Paulo: Cosac & Naify, 1997 p. 45

[3] Apesar de empregar o termo conto, este não é o mais apropriado para definir o texto referido por ter uma estrutura mais complexa. Porem decidi usar o termo pelo que ele representa (uma história curta).

[4] Anexo 2 p.42

[5] SALLES, C. A., 2003 : 95

[6] SALLES, C. A. 2003 p: 95

[7] PLAZA, 2001: 01

[8] Idem: 01

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De onde os medos ganham força? – Exposição

Exposição Diogo Nogue

Olá amigos é com prazer que venho anunciar mais essa novidade, finalmente está chegando o dia da minha exposição individual.

A expo chama “De onde os medos ganham força” e vou levar pra ela minhas telas mais recentes, que são continuação das pesquisa em arte contemporânea, sobretudo, pintura contemporânea.

Estou ansioso e trabalhando nos últimos detalhes da montagem, mas faz tempo que esta mostra estava engatilhada e é uma tremenda conquista para mim.

A convocação da Secretaria de Cultura de Santos veio ainda em 2015, após selecionarem meu projeto em banca do Salão de Arte daquele ano. Porém o cronograma dos outros selecionados se estendeu e minha montagem ficou apenas para 2016.

Finalmente chegou.

A pesquisa “De onde os medos crescem” teve inicio no meu projeto de TCC da faculdade. Para ele, escrevi o conto homônimo, inspirado em história de família, da arte, do brasil e misturando conceitos da filosofia, psicologia e do fazer pictórico para gerar relações simbólicas e relações que só a lógica narrativa consegue construir.

Deste conto produzi 4 telas para minha conclusão de curso, elas me renderam nota máxima e também uma indicação para mostra coletiva.

Em 2010 então, junto com mais 10 colegas, participei da exposição “Onze Lições” com as telas desta série.

Posteriormente continuei desenvolvendo a pesquisa e criei outras telas.

A mostra de Santo será a união desse trabalho novo e também as 4 telas iniciais. Portanto é um marco em minha carreira artística, sem dúvida. O nome também é bem significativo, já que os medos começam a crescer quando os anos pós-faculdade vão passando e fica mais difícil manter a produção. Porém a luta não pode parar, por isso sigo sempre acreditando em meu trabalho, sempre desenvolvendo meus conhecimentos teóricos e técnicos para deixar um legado que me orgulhe.

Para mais detalhes da mostra vou deixar o serviço e o link para evento.

 

Página do Evento: www.facebook.com/events/643055199176504/

Serviço:
Exposição “De onde os medos ganham força” – Diogo Nogue
Quando: de 18 de junho a 02 de julho – Abertura 17.6 às 19h
Onde: Centro de Cultura Patrícia Galvão
Endereço: Av. Senador Pinheiro Machado, 48  – 3º Andar – Vila Matias, Santos/SP
Página do artista: www.facebook.com/diogonogueart
Site oficial: www.diogonogue.com.br
Página da Galeria: www.facebook.com/galeriasdesantos
Informações: (13) 32268010

 

 

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Download Free – Revista Fabulário nº 2

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Em 2008 eu e alguns amigos tínhamos um coletivo ativo e borbulhando de vontade de pesquisar, discutir e produzir literatura fantástica, chamado Fabulário. Estávamos em quase todos os eventos e feiras, na margem do mainstream e do underground, tentando absorver e desvendar o território dessa literatura de nicho, investigando seus problemas, soluções e possíveis futuros.

As reuniões eram riquíssimas para mim, apesar das dificuldades de nunca termos um bom espaço, horário ou tempo para colocar em prática todos os planos que surgiam nas tardes e madrugadas de conversa.

Cobrir eventos, fazer artigos para nosso blog e as reuniões em si eram atividades prazerosas, mas sem dúvida a discussão da nossa produção era o que mais me animava e a divulgação do nosso fanzine, uma luta empolgante.

Quando eu cheguei no coletivo em 2007, a luta já tinha começado. Fui convidado por meu amigo Luíz quando o grupo estava com o primeiro fanzine saindo do forno, pronto para ser lançado na II Mostra de Curtas Fantásticos de Ilha Comprida.  Para saber como foi essa história clique aqui! Se preparem, pois era um mundo saindo da internet discada, listas de discussões e Orkut.

Após o Fanzine nº1 “E ninguém nunca mais…”  se seguiu uma longa jornada de eventos, vendas para amigos e inimigos e muita conversa, nesse meio tempo, fizemos uma edição em inglês com 3 capas colecionáveis e a lançamos em Paraty, fazendo nossos escritos chegarem nas mãos de ninguém menos, ninguém mais que Neil Gaiman, que fez uma palestra por lá naquele ano.

E pegando um gancho em um artigo escrito por Tadeu no primeiro zine e também em sua pesquisa detalhada de Fausto de Goethe que decidimos desenvolver o nosso segundo Fanzine com a temática de pactos e as relações fáusticas.

Não se sabe se pelo dedo do próprio tinhoso caído, ou pelos desígnios dos anjos dos céus, esta edição nunca foi produzida e lançada. Logo depois de a termos finalizado, o coletivo entrou em um hiato do qual não se levantou de verdade até hoje, apesar de algumas tentativas.

Por isso, aproveitando o blog, achei que seria um ótimo espaço para disponibilizar as duas edições da Revista Fabulário, para download Free! é isso mesmo! totalmente de graça! haha.

A edição que conta com minha contribuição é a nº2 Relações Fáusticas, o conto que escrevi chama “Três lampejos sobre sete vidas alternativas” que também vou postar no meu blog Caixa dos Contos em breve dando mais detalhes da sua produção. Fiquem agora com os pdfs que também podem ser encontrados na sessão de Downloads do site.

 

Revista Fabulário (english version)

Fabulário Magazine (English Version)

Noite de lançamento – Trovinhas das Cores e Amores

Noite de lançamento, cultura negra na livraria central.

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Fila na noite de lançamento – Família e amigos fazendo a magia acontecer.

 

No ultimo dia 21-03 aconteceu a noite de lançamento do livro de versos populares escrito por minha mãe e ilustrado por mim – o Trovinhas das Cores e amores.
A noite de autógrafos aconteceu na livraria cultura da Av. Paulista, e fiquei muito feliz com o resultado da festa!

Como eu disse na postagem anterior, o livro levou longos 7 anos para ficar pronto, mas o que eu não disse é que inicialmente ele nem foi pensado para ser lançado. Quando minha mãe pediu pra eu ilustrar o livro, o projeto era de mais de 32 ilustrações, uma para cara verso, cheio de cores e bem gordo. Com certeza não seria aprovado por editora nenhuma e a ideia era isso mesmo, fazer apenas alguns exemplares para a família, eu teria algumas ilustras para o portfólio e minha mãe ficaria feliz com seu livro.

Porém durante o processo o projeto foi tomando esta cara final. Um livro com finalidade e possível.

Assim que o tinha pronto em mãos, um novo desafio se abria: Achar uma gráfica e produzi-lo de forma independente (como sempre pensamos que seria).

Um lançamento por editora não passou por nossa cabeça, muito menos uma noite de autógrafos na livraria mais icônica da cidade. Isso tudo só aconteceu com a ajuda do colega e amigo Fernando Guifer.

Fernando tinha acabado de lançar seu livro “Diamante no Acrílico” ano passado, após fazer uma busca por inúmeras editoras ele encontrou a Metanóia, que por intermédio dele, também ficou conhecendo o projeto do Trovas.

Graças a ele a chance de fazer minha mãe feliz com um livro ganhou um brilho especial.

Fernando Guifer e Nogues

Eu, Fernando Guifer e minha mãe Regina Lúcia.

 

Passando o bastão

Minha preocupação com a noite de lançamento era de não ser apenas uma cerimonia massante e narcisista, queria aproveitar o espaço da livraria para levar discussões sobre o preconceito e também falar da produção de periferia.

Logo de cara pensei em levar para o espaço uma galera que eu tinha conhecido faz pouco tempo, em saraus aqui na zona leste. Confesso que quando conheci o movimento de Sarau aqui na periferia em 2014 eu fiquei encantado e impressionado. Como que morando aqui na quebrada eu não conhecia e não estava junto ali, produzindo? Nem sei.

Consegui a aprovação da ideia na ultima semana com a Livraria e convidei a galera dos Filhos de Ururaí. Que tinha conhecido primeiro por vídeos na net e depois no Movimento Aliança da Praça.

A poesia combativa a interpretação forte dos Filhos era o que eu estava procurando para contrapor a delicadeza do “Trovinhas” e foi uma felicidade eles terem aceitado o convite.

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Andrio Candido, Rafael Carnevalli, eu, Regina, Lucas Afonso e Daniel Lobo

Andrio Candido, Rafael Carnevalli, eu, Regina, Lucas Afonso e Daniel Lobo

 

Coisa de família

Além dos “Filhos”, também contamos com meus priminhos declamando alguns versos do Trovinhas DSC_0037

Inspirados nos versos da tia Alice da vó Rosa, reinventados por minha mãe, ilustrados por mim e declamados por meus priminhos, quatro gerações fazendo parte dessa noite unica para a família Nogueira, descendentes de índios e escravos e transformando a Livraria Cultura em um território negro, mesmo que por uma noite.

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Momento emocionante também foi quando deixamos essa mocinha furar a fila, ela comprou o livro e queria uma dedicatória, mas ela e a mãe estavam com a hora do filme pra começar e a garotinha começou a chorar, não resistimos, muito bom ver um sorriso substituir o choro de uma criança.

Foi uma noite muito agradável em que revi amigos, encontrei pessoalmente pessoas que só conhecia pela internet e que reuni a família.

Muito bom ter a sensação de ter marcado a noite de muitas pessoas e de injetar cultura, sendo produtor e fomentando a arte no mundo.

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Para finalizar demos uma entrevista sobre o Trovinhas. Graças ao lançamento da jornalista e escritora Joyce Ribeiro que estava acontecendo no andar de cima.

Este foi o resumo da noite para aqueles que não foram e para os que querem relembrar.

Para ver mais fotos basta acessar o álbum da minha página.

Muito obrigado aos amigos, familiares e desconhecidos que foram prestigiar essa noite e espero vê-los em breve em novos lançamentos, ou em aberturas de exposições.

Veja também a entrevista dada ao Canal Todos os Negros do Mundo

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Ilustrando O Livro Trovinhas

Olá, se vocês acompanham o Desenhos e Devaneios desde o blogspot, já viram por aqui algumas ilustrações do livro infantil “Trovinhas das Cores e Amores”

Para quem chegou agora, deve ter visto que o lançamento do livro será dia 21/03 na livraria cultura. Clique aqui para saber tudo sobre o lançamento.

Se não me engano, comecei as ilustrações no final de 2008, prestes a iniciar meu projeto de tcc na faculdade, o que me deixou sem tempo para o projeto.

 

Livro Infantil contra o preconceito. Valorizando as diferenças e o amor

Durante esses nove anos, fui fazendo aos poucos as 12 ilustrações que compõem o livro. Mas antes de colocar a mão na tinta (e na tablet) levei bastante tempo junto com minha mãe dando uma cara para o livro.

O primeiro desafio foi criar um enredo e agrupar os versos que tinham relações uns com os outros. Dessa forma, foi possível desenvolver um caminho e também perceber um ambiente imagético para criar as ilustrações.

No segundo momento, decidi ambientar a história do livro em um universo mais campestre, uma paisagem vivida por meus avós criando uma ponte de realidades entre as trovinhas e as ilustrações.

Uma grande dificuldade que encontrei durante o processo foi a técnica.

Escolhi fazer as ilustrações misturando aquarela e pintura digital, buscando uma base de manchas, texturas e acaso na técnica manual e dando acabamento na pintura com  a mesa digital. Sem contornos e com composições cromáticas variadas (afinal, as cores eram um dos pontos principais do livro). As dificuldades com a técnica foi um dos principais fatores pela demora em finalizar o livro.

Chegar em um bom resultado nessa mesclagem foi um desafio que fazia com que as ilustrações demorassem a ficar prontas, ainda mais por eu só trabalhar nelas em pequenos períodos entre outras atividades.

Por ultimo, mas não menos importante. Aliás o ponto principal do livro… tratar de representatividade, trabalhar a luta contra o preconceito (de todos os tipos) e ser abrangente para vários públicos. Este era o meu desafio.

A luta pela representação negra 

Como designer, ilustrador e escritor sempre me senti oprimido por uma barreira invisível e ao mesmo tempo extremamente densa que tinha de atravessar em todo momento de criação.

Lembro que sempre que começava a escrever um conto, o personagem principal em minha cabeça era branco. Quando desenhava quando criança, criava caucasianos e mesmo depois em meus primeiro estágio como designer, me sentia compelido a escolher imagens e criar comunicações com pessoas brancas. (existia uma regra não dita, que o publico alvo não iria se identificar com um modelo negro)

Sempre me obriguei a lutar contra essa barreira invisível da não representatividade. Era como se não existisse a possibilidade de se escrever sobre negros, desenhar negros ou fazer publicidade para negros, simplesmente porque minhas referências nesse sentido eram muito escassas, quase nulas. Os livros que lia, os desenhos que via, as propagandas que via, quando tinham negros, nunca eram protagonistas ou muitas vezes não tinham. Essa falta sempre foi apontada por meus pais e tios. Algo que precisava ser mudado, porém a barreira sempre estava lá. Mesmo sendo alimentado por um pensamento critico.

Que barreira era essa?

A mesma barreia que me fazia sentar um pouco mais afastado de meninos negros no colégio, a mesma barreira que não me deixava me aproximar de garotas negras na pré adolescência ou acha-las bonitas. Uma barreira que nunca foi verbalizada ou racionalizada de verdade: O medo quase que ancestral de ser reprimido ou punido por estar junto dos meus iguais, e até mesmo de me sentir rebaixado ou fraco por querer ficar próximo dos meus, por ser mais fácil ser aceito.

E sempre que sentia essa barreira me oprimir eu fazia de tudo para ultrapassá-la, e assim, minha primeira ilustração publicada tinha um garoto negro, consegui fazer publicidade com pessoas negras, mesmo que as vezes ter sentido uma resistência, e muitas vezes não ter um layout aprovado por minha tentativa de representatividade.

pagina livro infantil Trovinha das cores e amores

E no Trovinhas? 

Não foi diferente, o objetivo das ilustrações é ser plural. Tratar do amor do ser humano, algumas vezes contra esteriótipos de gordo/magro do belo/feio e as cores como adjetivos multiplos  e não classificatórios.

Mas mesmo assim, a barreira tentou me impedir em alguns momentos e principalmente na capa. Talvez se a tivesse feito a alguns anos atrás não conseguiria vencer esse obstáculo, porém após refletir sobre essas questões acima e materializar essa barreira, antes invisível, consigo compreender racionalmente essa luta e espero que com o “Trovinhas..” mais pessoas possam vencer imposições estruturais como as relatadas aqui.

A luta sempre está começando. A representatividade é o caminho.

 

 

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